Seguidores

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Sutilezas

As sutilezas do livro A Cabana

Por João A. de Souza Filho

Confesso. Fui levado a ler A Cabana por pessoas amigas que queriam minha opinião a respeito do livro. Eis minha avaliação. Como romance é ótimo. Tem bom enredo e consegue prender o leitor até quase metade do livro. Mas, depois que o protagonista da história vai até a cabana onde o enredo se passa, a conversa com Deus, que lhe aparece como uma mulher negra, cozinheira, que gosta de rap e de reggae; com Jesus, um carpinteiro bonachão e com o Espírito Santo uma mulher de características orientais, a narrativa se torna às vezes monótona, outras vezes cativante, mas sempre preocupante.
Não quero, de maneira alguma jogar água fria em você que leu o livro A Cabana.
Mas é nos diálogos da suposta trindade com o protagonista que aparecem as sutilezas ou sementinhas de sofismas que poderão afetar a maneira de crer de crentes imaturos que não conhecem a essência de sua fé. Sim, meus amigos, hoje existe uma geração de cristãos que não sabe em que crê; apenas crê. Crê nos pacotes de ensinamentos que lhes são apresentados em cada culto da igreja. Tudo que sabem de Deus, de Jesus e do Espírito Santo é o que lhes foi apresentado no kit que receberam do pastor a partir do dia em que ingressaram na igreja.
Sei que o livro vende bem e é apreciado pelos evangélicos. Acontece que muita gente não percebe suas sutilezas. Além das sutilezas, a pergunta que Mackenzie, o principal personagem do livro faz a Deus: Por que Deus permitiu que sua filha fosse seqüestrada e morta? Sempre é respondida com evasivas. Busquei a resposta e, como Mack fui iludido.
A sutileza do escritor convenceu líderes evangélicos americanos como Pat Robertson do Clube 700, Michael W. Smith, Eugene Peterson, professor do Regent College e outros renomados pastores americanos e até mesmo James Ryle do movimento Vineyard.
No entanto, quando se compara tudo o que é sugerido no livro com a Bíblia descobre-se mais uma pedra fundamental da velha torre de Babel, que é também a pedra de esquina da chamada igreja emergente. Sim, porque a igreja emergente traz para seu seio ensinamentos de filosofias e conceitos do pós-modernismo; o ensinamento de que a igreja precisa abarcar em seu seio todas as culturas e adaptar-se a todas as influências.
Para que o leitor compreenda, o pós-modernismo abriu espaço para que a Nova Era influencie a mensagem evangélica com a tendência de se repudiar a possibilidade de qualquer conhecimento seguro e sólido da verdade. Trabalha pela desconstrução sistemática de qualquer reivindicação da verdade; é a rejeição de toda expressão de certeza. Não existe verdade absoluta, apenas a incerteza e cada pessoa fica com sua verdade, com o que crê! Cada pessoa crê do jeito que quer, e deve respeitar a crença do outro. Não é lindo? E isto fica claro no livro A Cabana.
A sutileza de Satanás em mascarar a verdade vem sendo apresentada como se os diálogos da trindade em A Cabana estabelecessem a verdade suprema que estava faltando na igreja.
No final de 1998-2000 o sucesso era ler o Código da Bíblia em que o autor lançava uma cortina de fumaça sobre a fé cristã. O escritor Michael Drosnin valendo-se das pesquisas do matemático Elihu Ripps da Universidade Hebraica de Jerusalém chegou até mesmo a fazer suas previsões afirmando que um terremoto devastaria o Japão em 2006. Nada aconteceu. Ainda quero voltar ao tema do O Código da Bíblia para ressaltar as sutilezas.
Depois veio o Código Da Vinci sugerindo que a fé dos cristãos teria sido manipulada por homens que esconderam das pessoas a verdade, insinuando a idéia de que estávamos crendo numa farsa. Os defensores da fé cristã, como Erwin Lutzer tiveram que defender novamente a fé dos cristãos. Agora, em A Cabana somos brindados com novas formas de sutilezas, aliás muito bem apresentadas e quase convincentes! E neste tempo de globalização um livro pode ser sucesso mundial em pouco tempo.
Essa tentativa da redefinição de Deus pode ser detectada nas entrevistas que o autor deu ao longo deste tempo. Conforme o autor, o livro é para os têm um anseio de que Deus seja bondoso e amoroso, conforme desejamos. (Entrevista com Sherman Hu, 04/12/2007). Busca-se um Deus cujo amor seja incondicional, que não exija obediência alguma, arrependimento, que não condene o pecado, nem faça com que os homens se sintam culpados pelos seus atos. Não creio que o deus que Mack encontra na cabana onde sua filha foi assassinada seja o Deus da Bíblia. Ou então, o Deus sobre quem falo e prego ao longo de meus 45 anos de ministério mudou! Tornou-se um Deus mais light, fofinho, crível por todos. Ele é apresentado no livro A Cabana desvestido de santidade. Totalmente humano.
Veja algumas frases interessantes:
"Os que me amam estão em todos os sistemas que existem. São budistas ou mórmons, batistas ou muçulmanos, democratas, republicanos e muitos que não votam nem fazem parte de qualquer instituição religiosa (...) Há banqueiros, jogadores, americanos e iraquianos, judeus e palestinos. Não tenho desejo de torná-los cristãos, mas quero me juntar a eles em seu processo para se transformarem em filhos e filhas do Papai, em irmãos e irmãs, em meus amados" (Palavras de Jesus para Mack - pp 168-169).
- Se é assim, Jesus, por que venho me afadigando em pregar o evangelho?
É a pergunta que eu faria ao Jesus de A Cabana!
"Aplicar regras, sobretudo em suas expressões mais sutis, como responsabilidade e expectativa, é uma tentativa inútil de criar a certeza a partir da incerteza. E, ao contrário do que você possa pensar, eu gosto demais da incerteza. As regras não podem trazer a liberdade. Elas só têm o poder de acusar" (p 190).
- Deus, se você gosta da incerteza, por que sou apresentado a um Evangelho que me traz a certeza? Também perguntaria isso ao deus de A Cabana!
Mas, leitor, conclua você mesmo. Como se dizia antigamente, leia o livro com um olho na missa e outro no padre! E cuidado, a sutileza é maior do que você imagina!

Nenhum comentário:

Postar um comentário