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terça-feira, 17 de agosto de 2010

A mulher com fluxo de sangue e a filha de Jairo


“Quem me tocou as vestes?”

Levítico 15 descreve a situação das pessoas que tinham um fluxo de sangue e as normas relacionadas com esse problema. Devemos dar graças a Deus pela narrativa da mulher com fluxo de sangue encontrada em Mateus, Marcos e Lucas. Será de grande ajuda se o leitor pudesse ler agora o que os três escritores disseram. Pode parecer que existe alguma contradição entre eles, mas na verdade eles se completam (Mt 9.18-26; Mc 5.22-43; Lc 8.40-56).
O evangelista Marcos dedicou todo o capítulo 5 para descrever o encontro do Senhor Jesus com três pessoas distintas: o homem de Gadara com a Legião de demônios, Jairo e sua filha e a mulher com o fluxo de sangue. Depois de libertar o homem com a Legião de demônios, o Senhor passa para o outro lado do mar onde grande multidão se aglomera para ouvi-Lo. Chega um homem, chefe da sinagoga, cujo nome era Jairo e Lhe implora para ir e ver sua filha que está para morrer. Jesus se põe a caminho com Jairo e com a grande multidão que O apertava, pois todos queriam vê-Lo e estar mais perto dEle.
Mas uma certa mulher, cujo nome não é dado e que sofria há doze anos de uma hemorragia (fluxo de sangue), decidiu furar o bloqueio da multidão, a fim de tocar na veste do Senhor. Ela estava em grande desespero, pois tudo o que possuía havia sido gasto com os médicos e eles nada puderam fazer para ela. O pior de tudo é que ela ficava cada vez pior. Mesmo num tal estado de fraqueza por causa da perda de sangue durante doze anos, ela, na sua extrema fraqueza extraiu força (Hb. 11.34) e conseguiu se aproximar do Senhor. Estendeu a mão com determinação e agarrou com firmeza certa parte da veste de Jesus e imediatamente comprovou a cura do seu mal. O Senhor, sentindo que havia saído virtude (dinamis, grego) dEle, disse aos Seus discípulos: “Quem me tocou as vestes?” Sutilmente eles chamam a atenção do Mestre dizendo: “Vês que a multidão Te aperta e perguntas: Quem me tocou?”
Mas o Senhor sabia que havia alguém no meio da multidão que havia tocado nEle de forma diferente. Ele estava sendo atropelado e comprimido por todos, mas alguém havia tocado nEle com fé. A mulher, atemorizada, trêmula e consciente do que lhe havia acontecido, prostrou-se diante dEle e declarou a verdade, tendo Jairo e a multidão como testemunhas. Nesse momento o Senhor lhe diz: “Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz e fica livre desse teu mal”. As palavras do Senhor Jesus visam corrigir uma certa mistura de fé e superstição que havia na mulher. Ela pensava que precisava tocar na orla das Suas vestes para ser curada.
Nesse exato momento chega o mensageiro trazendo a triste notícia do falecimento da filha de Jairo, com a sugestão para não mais incomodar o Mestre. Mas Jesus apenas lhe diz: “Não temas; crê somente”. Era como se Ele lhe dissesse: “Jairo, agarre o exemplo dessa pobre mulher que acabou de ser curada”. E juntos foram para a casa de Jairo onde estava a menina morta. Entrando no quarto junto com Pedro, Tiago, João e os pais, Ele segurou sua mão e lhe disse: “Talitha cumi”, que traduzindo é: “Cordeirinho, levanta-te.” A menina se levantou e Jesus mandou que lhe dessem de comer.

Agonia e Felicidade Durante Doze Anos
A história de Jairo é interrompida pela história da mulher com o fluxo de sangue. Elas estão entrelaçadas e mesmo havendo contrastes notáveis, a harmonia é ainda mais maravilhosa. A filha de Jairo tinha doze anos e a mulher sofria há doze anos do seu mal; a doença se manifestou quando a menina nasceu. Na casa de Jairo foram doze anos de alegria e felicidade por causa daquela criança querida. Do lado da mulher foram doze anos de tristeza, dor, agonia e solidão. O lar da mulher havia se desintegrado totalmente. Os religiosos da época ensinavam que esse tipo de doença estava relacionado com impureza moral. Por essa razão ela foi excomungada do Templo, da sinagoga e de todo lugar de culto. Podemos dar asas à nossa imaginação e contemplar aquela pobre coitada sozinha em seu caminho. Oh, como ela deve ter sofrido durante aqueles doze anos! Quantas lágrimas ocultas ela não derramou ao ver seus pequeninos de longe sem poder se aproximar deles para os tocar, abraçar e beijar.

O Toque da Curiosidade e o Agarrar da Fé
No fundo do poço, sem qualquer vislumbre de cura, a pobre mulher ouve falar de Jesus. Notícias chegam ao seu coração do poder e da graça misericordiosa do Senhor Jesus. Seu coração se anima e uma pequena fagulha de fé começa a arder em seu coração. Ela se levanta determinada, mas logo encontra o primeiro obstáculo: a grande multidão entre ela e o Senhor. Nesse ponto precisamos lembrar do estado de fraqueza extrema em que ela se achava. Ela sabe que precisa furar aquele bloqueio humano e avançar pelo meio da multidão. Chegando por detrás do Senhor, estende sua mão e segura sua veste com determinação. Sua fé débil e com mistura a põe em contato com o Senhor da Vida. Jesus sente que dEle saiu poder e entrou em alguém no meio da multidão. Portanto, precisa transmitir aos Seus discípulos uma profunda lição do mundo espiritual, Ele lhes pergunta: “Quem me tocou?” Usando apenas o raciocínio humano eles devolvem a pergunta dizendo: “A multidão Te aperta e perguntas: Quem me tocou?” O Sr. Campbell Morgan escreveu sobre o verbo tocar dizendo: “O que ela fez?” Temos lido durante toda a nossa vida que ela tocou na orla das Suas vestes. Ora, na verdade a palavra tocou não traduz precisamente o pensamento do verbo Grego; ela fez mais do que tocar: ela agarrou. Nos aproximamos do sentido do verbo se usarmos a palavra agarrou. Ela não esticou apenas a sua mão para tocar nEle; ela pegou algo” (Gospel of Luke, pág.166). Os verbos “apertar” e “tocar” também são diferentes no Grego. A multidão apertava e atropelava o Senhor, movida apenas pela curiosidade; a mulher agarrou a orla da Sua veste com firmeza e determinação. Ela sabia qual eraa sua necessidade e que em Jesus estava a fonte de toda a graça e poder.

A Fé Com Mistura Despertando a Fé Genuína
Enquanto o Senhor Jesus atendia a mulher; chega a notícia do falecimento da filha de Jairo. Outros da sua casa que não tinham a fé o aconselham: “Porque ainda incomodas o Mestre? Sua filha morreu; acabou! Ele podia curá-la como curou esta mulher; mas agora ela está morta. Acabou!” Imagino que nesse momento a fé de Jairo tenha estremecido, seu amor tenha ficado ferido e sua esperança demolida. Pouco antes ele havia dito: “Rogo-Te que venhas e imponhas as mãos para que sare e viva” (Mc. 5.23). Agora podemos entender porque Jesus insistiu para que a pessoa curada se apresentasse publicamente. Ela tinha fé, sem dúvida, mas alguns acreditam que havia uma certa mistura de superstição em sua atitude de querer tocar as vestes de Jesus. Foi isso que Jesus lhe disse que ela havia sido curada pela fé e não por ter tocado em Sua veste. De certa forma, Suas palavras “filha, a tua fé te salvou”, foram repetidas a Jairo. Ele pensava que a filha precisava estar viva para ser curada, mas não morta para ser ressuscitada. Agora Jesus lhe diz: “Não temas: crê somente”. O Senhor usou a mulher com sua fé misturada para despertar a fé genuína em Jairo, não para ver sua filha apenas curada, mas ressuscitada.

Os Dois Toques de Mão
Nosso texto diz que a mulher pretendia tocar a veste de Jesus, isto é, qualquer parte dela. Tal tradução nos permite ver sua real intenção e as sérias implicações desse ato, visto que sua condição era a de uma pessoa considerada imunda. O primeiro toque de mãos é mencionado por Jairo: “Rogo-Te que venhas e impõe-lhe a tua mão e ela viverá” (Mt 9:18). Marcos e Lucas dizem que ela estava viva e Mateus diz que ela acabara de falecer. Não há contradição nos fatos: Mateus inicia sua narrativa depois da chegada do mensageiro que trouxe a noticia do falecimento da menina. Jairo certamente repetiu seu convite a Jesus depois de ouvir Suas palavras: “Não temas; crê somente” (Mc. 5.36). No primeiro convite a menina estava viva e no segundo ela já estava morta.
Os dois acontecimentos nos mostram um toque de mãos limpas e um toque de mãos impuras. A imposição das mãos de Jesus comunicava vida, cura, purificação, conforme aconteceu com o leproso (Mt. 8.3); mas o toque da mulher transmitia contaminação. A cama onde ela se deitava, o lugar onde se assentava e tudo o que entrasse em contato com ela se tornava imundo até à tarde (Lv. 15.25-27). Pense bem na decisão que ela tomou: tocar na veste de Alguém reconhecido pela multidão como sendo um homem santo, um profeta ou mesmo o Messias de Israel. Ser tocado por ela significava se tornar imundo, mas não no caso de Jesus. O inverso aconteceu: dEle saiu virtude, poder, cura e libertação para a pobre mulher.

O Cordão Azul – Pureza Celestial
Depois dessa caminhada com os personagens da nossa história, creio que estamos em condições de compreender claramente o que significava para aquela mulher tocar nas vestes de Jesus. Duas palavras gregas são usadas por Mateus e Lucas: “rimatiou” (veste) e “kraspedou” (orla, da veste, naturalmente). Marcos omite a segunda (kraspedou) da veste de Jesus. Essa palavra traz em si uma tremenda verdade mas oculta aos nossos olhos. O significado está no livro de Números. “Disse mais o Senhor a Moisés: Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes que façam para si franjas (orla, kraspedou) nas bordas das suas vestes, pelas suas gerações; e que ponham nas franjas das bordas um cordão (ou laço) azul” (15.37,38). Sendo um israelita fiel que guardava todos os preceitos da lei, Jesus sem duvida tinha esta franja em Sua veste, e nela o cordão azul. Mateus e Lucas registram que a mulher queria agarrar exatamente a franja onde estava o cordão azul.
Mas qual era o significado do “cordão azul?” Precisamos continuar lendo o texto de Números: “Tê-lo-eis nas franjas, para que o vejais e vos lembreis de todos os mandamentos do Senhor e os observeis; e para que não vos deixeis arrastar à infidelidade, pelo vosso coração ou pela vossa vista, como antes fazíeis; para que vos lembreis de todos os mandamentos e os observeis e sejais santos com o vosso Deus” (15.39,40). Aqui temos algo que só a mente espiritual pode interpretar. A finalidade do cordão azul era lembrar ao israelita fiel “todos os mandamentos do Senhor”, visando observá-los. O Senhor sabia que eles podiam ser arrastados para a “infidelidade”, e a franja na orla da veste com o cordão azul estaria sempre diante dos seus olhos.
Literalmente, a palavra “franja” é “flor” e vem de uma raiz no hebraico cujo sentido é “brilhar”. Ela aparecia também na lâmina de ouro na testa do Sumo Sacerdote: “Também farás uma lâmina de ouro puro e nela gravarás como a gravura de um selo: Santo ao Senhor: Pó-la-ás em um cordão azul, de maneira que esteja na mitra; bem na frente da mitra estará. E estará sobre a testa de Arão...” (Ex. 28.36-38). Certamente isto não é uma semelhança acidental, pois a mitra do Sumo Sacerdote mostra que a santidade é a coroa das vestes; o cordao azul, símbolo daquilo que é celestial, nos mostra que o celestial é santidade. O cordão azul era colocado nas franjas e está claro que sua localizações era na barra da veste. A franja quase tocava o chão e fazia separação entre o que é terreno e o que é celestial. Paulo lança luz sobre isso ao dizer: “Assim como trouxemos a imagem do terreno, devemos trazer também a imagem do celestial” (1Co. 15.49). O Terreno é Adão e o Celestial é Cristo. O cordão azul na orla da veste simbolizava Aquele que é Celestial, e funcionava como uma barreira para impedir a invasão da velha criação. A flor (ou, franja) pode muito bem simbolizar a “beleza da santidade”.
Agora podemos compreender o que estava no coração daquela mulher. Ela conhecia o significado do cordão azul e viu na Pessoa de Jesus a realidade espiritual daquele símbolo. Ele era “celestial” e nela se manifestava o que era “terreno”. Ela sabia também que seu toque tornava uma pessoa contaminada, mas no caso de Jesus ela viu que seu toque nunca poderia contaminar Aquele que não pode ser contaminado; pelo contrário, a virtude, o poder; o dinamis da Vida de Ressurreição passaria dEle para ela e estancaria num instante o seu mal. Embora estivesse sofrendo por causa da impureza moral, ela, sem dúvida, era tratada como tal; e para nós que vivemos na era da graça, seu mal simboliza as contaminações da nossa natureza caída.

O Pecado Oculto e os Recursos Naturais
Quantos filhos de Deus passam a vida inteira tentando vencer algum tipo de pecado só conhecido deles mesmos. Eles amam ao Senhor e à Sua Palavra e têm uma vida digna diante dos irmãos e do mundo. Sua vida parece ser de vitória em Cristo, mas no íntimo deles existe algo que abate e envergonha. Pode ser um tipo de pecado que está apegado a eles durante toda a caminhada cristã e que os leva a gastar todas as suas forças e recursos, no desejo sincero de solucionar o problema. Mas a luta de nada adianta e as coisas chegam a piorar. Não foi exatamente isso que a mulher experimentou? Ela “tinha sofrido bastante nas mãos de muitos médicos, e tendo gastado tudo quanto possuía de nada lhe aproveitou, antes indo a pior” (Mc.5.26). Quantos médicos você já consultou? Quantos irmãos e irmãs abençoados você procurou, quantas conferências especiais assistiu, quantos escritos de vida vitoriosa você leu, quanto jejuou, quantos votos de consagração você fez, quantas orações ofereceu, e tudo sem qualquer solução. Sabe onde está o motivo de tal fracasso? Na esperança de vencer a carne com a carne, a velha natureza com a velha natureza.
A experiência da mulher simboliza a experiência de Paulo em Romanos sete. Ele queria fazer o bem, mas sempre fazia o mal. O querer estava nele, mas não o efetuar. Foi aí que Paulo descobriu haver nele, uma “lei” chamada “lei do pecado e da morte”. Depois de gastar tudo quanto tinha, ele descobriu que só uma Pessoa podia livrá-lo: “Quem me livrará desse corpo de morte?” (Rm.7.24). Aí seus olhos foram abertos: “Graças a Deus (é) por Jesus Cristo nosso Senhor” (7.25a). Só o Senhor Jesus podia libertá-lo daquele cadáver do velho homem. Oh, como carecemos da revelação do Espírito Santo nessa questão da manifestação da velha criação em nós! Como carecemos de uma revelação completa de Romanos, seis, sete e oito.

O Endemoniado, a Mulher e a Menina
Marcos, como já dissemos, relatou o encontro de Jesus com os três personagens acima. Ele usou todo o capítulo para registrar o que aconteceu. Existe realmente um grande perigo em se tentar espiritualizar tudo o que lemos na Bíblia, entretanto, acredito que em alguns lugares isso é permitido e tão evidente que não podemos negá-lo. Este é o caso de Marcos cinco. No parágrafo anterior, terminamos dizendo que carecemos de uma revelação completa de Romanos seis e oito. E o que temos nestes três capítulos? A libertação do domínio do pecado (6), a libertação da lei (7) e a libertação da morte (8).

a) O Endemoniado – Romanos 6
O endemoniado nos mostra claramente o domínio completo do pecado, manifestado na deterioração total daquele ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus. Depois de quebrado o domínio de Satanás, nós o encontramos “sentado, vestido e em perfeito juízo” (Mc.5.15). Não é este um retrato incontestável de alguém que foi livre do domínio do pecado? Estar “sentado” indica descanso e paz; o “perfeito juízo” indica a mente renovada e sob o controle do Espírito Santo; o “vestido” aponta para uma nova conduta de vida.

b) A Mulher com o Fluxo de Sangue – Romanos 7
No caso da mulher com o fluxo temos a manifestação da nossa força natural, visando solucionar o problema do fracasso espiritual. Ela gastou tudo o que possuía, sem nada aproveitar. Romanos sete mostra que devemos ser libertados da Lei. A Lei é a exigência de Deus sobre a nossa carne, e Deus a usa para revelar a nossa total incapacidade em obedecê-Lo. Ela é comparada a um marido severo que exige muito da esposa, mas nada faz para ajudá-la. Ele só a condena por seus erros. Romanos sete nos mostra Paulo gastando tudo quanto possuía, visando estancar aquela hemorragia da natureza caída. Mas tanto a mulher como Paulo encontraram a libertação no poder da vida de ressurreição do Senhor Jesus.

c) A Filha de Jairo – Romanos 8
A filha de Jairo manifesta o poder da morte secando e drenando tudo o que é atrativo e lindo. Na flor da idade, aos doze anos, quanto estava para entrar na adolescência da vida, a menina seca e morre. Ela representa a operação da “lei do pecado e da morte”. Não acontece assim com os cristãos? Estamos no desabrochar das afeições pelo Senhor Jesus, com nossos corações transbordando de afeto e gratidão e, repentinamente, vem o sopro da morte. O que é morte? É o estado de fraqueza em seu estágio final. Como foi quebrado o poder da morte na vida daquela menina? Pela Palavra de vida que saiu da boca do Senhor Jesus: “As minhas palavras (rhema) são espírito e vida” (Jo.6.63b); “Nem só de pão o homem viverá, mas de toda a palavra (rhema) que procede da boca de Deus” (Mt.4.4). Aqui temos Romanos oito: “Porque a Lei do Espírito e da Vida em Cristo Jesus te livrou da Lei do Pecado e da Morte” (v.2). As Palavras que saem da boca do Senhor Jesus são espírito e vida e esta é uma lei divina que produz sempre o mesmo resultado.
Verdadeiramente “grande” é a salvação que o Senhor Jesus nos deu (Hb.2.2). Ele nos liberta da culpa e do domínio do pecado, das exigências da lei quanto aos nossos fracassos e da operação da lei da morte. Graças a Deus por Sua obra maravilhosa e completa através de Jesus, demonstrada na vida do endemoniado, da mulher com o fluxo de sangue e da filha de Jairo. Que quadro sublime e tocante do grande amor e compaixão do nosso grande Sumo Sacerdote. Como somos encorajados a prosseguir seguindo o Capitão da nossa salvação, pois sabemos que “Aquele que começou em vós a boa obra, há de aperfeiçoá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fl.1.6), pois Ele “pode salvar completamente os que por Ele se chegam a Deus, porquanto vive para interceder por eles” (Hb 7.25). Glórias e Aleluias ao nosso Senhor!

Unidas Pelos Laços do Calvário
Não sabemos se a mulher depois de ser curada por Jesus seguiu até à casa de Jairo com a multidão, todavia acho provável que isso tenha acontecido. A pobre mulher, curada do seu mal, deve ter desejado ardentemente contemplar o que o Príncipe da Vida faria diante da realidade da morte. Eu acredito que ela foi até a casa de Jairo e contemplou com seus próprios olhos o momento em que Jesus entregou a menina de volta aos seus pais, viva e em condições de ser alimentada.
Com todo o respeito pelo texto sagrado e com a sua permissão e compreensão, gostaria de dar asas à minha imaginação e descrever o que penso ter acontecido entre a mulher e a menina. A mulher tinha idade para ser mãe dela e certamente uma profunda amizade nasceu entre ela e a família de Jairo. Não deveríamos ficar espantados se encontrássemos as duas andando de mãos dadas e compartilhando suas experiências de cura e ressurreição. Creio que a conversa delas seria assim:
“Minha querida menina, quando você nasceu há doze anos apareceu em mim um fluxo de sangue, uma hemorragia crônica. Segundo a lei do Senhor eu tive que ser separada de tudo e de todos. Perdi o contato com meu marido, filhos, parentes e amigos; não pude mais freqüentar o Templo. O pior de tudo é que os líderes religiosos julgavam que eu havia cometido algum tipo de pecado moral (assim pensavam os religiosos daquela época) por causa do lugar onde o mal me apareceu. Passei todo esse tempo sozinha e muitas vezes parei em frente da sua casa e, do lado de fora, ouvi risos e gargalhadas dos seus pais brincando com você. Derramei tantas lagrimas que meus olhos pareciam mais uma fonte. Sua casa experimentou doze anos de alegria e felicidade; eu provei doze anos de dor, tristeza, agonia e solidão. Mas um dia encontrei o Senhor, o Celestial, Aquele representado pelo Cordão Azul mencionado no Livro de Números. Ele era a solução para o meu problema. Enfrentei a multidão que O cercava, me arrastei e fui até perto dEle, e ao tocar na orla das Suas vestes, na franja onde havia o cordão azul, fui imediatamente curada. Mas logo chegou alguém trazendo a noticia de que você havia morrido; de certo modo me senti culpada, pois seu pai, Jairo, estava naquele momento suplicando a Jesus que fosse à sua casa para te curar. Eu atrasei a ida do Senhor até você e então a morte te levou. Fiquei profundamente abalada, embora felicíssima com minha cura. Mas que alegria senti quando ouvi o Senhor dizer a seu pai: ‘Não temas; crê somente´. Em seguida fomos à sua casa, junto com os discípulos Pedro, Tiago e João, Jesus voltou logo do seu quarto de mãos dadas com você e mandou que te dessem de comer (Lc.8.55). Não tenho palavras para descrever o jubilo que explodiu dentro da sua casa, no coração dos seus pais, no meu coração e de todas os que ali se encontravam! Glória a Deus!”
Creio que a partir daquele momento uma linda amizade nasceu entre aquelas duas famílias. Aquela mulher conhecia as Escrituras (Nm.15.37-41) e fez uso delas para receber a cura do seu mal. Tudo indica que a menina também cria no Senhor, pois Ele disse que ela não estava “morta”, mas que “dormia” (Mc.5.39). Essa expressão é usada apenas para os que morrem em Cristo. Lázaro, Estevão e os irmãos da igreja em Tessalônica dormiram em Cristo. Sem sobra de dúvida, podemos crer que as duas famílias, dali em diante, foram unidas pelos Laços do Calvário!

Um Dueto Sobre a Graça de Deus
Permita-me continuar dando asas à minha imaginação, no que penso ter acontecido com a mulher e a menina. Já vimos que a mulher conhecia bem a Palavra de Deus e que a menina possuía a vida eterna antes de morrer, pois Jesus disse que ela estava dormindo. A menina foi levantada da morte e a mulher foi curada da sua enfermidade. No Livro dos Salmos encontramos um capitulo que descreve de modo maravilhoso a experiência dessas dias vidas: Salmos 103. Imaginemos a mulher e a menina andando lado a lado e recitando as palavras desse Salmo da seguinte forma:

As Duas:
“Bendize ó minha alma ao Senhor , e tudo o que há em mim bendiga ao Seu santo Nome... E não te esqueças de nenhum dos Seus benefícios. É Ele quem perdoa todas as tuas iniqüidades” (vs.1-3a)
A Mulher:
“É Ele quem sara todas as suas enfermidades” (v.3b)
A Menina:
“É Ele quem redime a tua vida da sepultura” (v.4a)
A Mulher:
“É Ele quem te coroa de benignidade e de misericórdia” (v.5)
A Menina:
“É Ele quem te supre de todo bem, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia” (v.5)
As Duas:
“O Senhor executa atos de justiça e juízo a favor de todos os oprimidos; compassivo e misericordioso é o Senhor; tardio em irar-se e grande em benignidade” (vs.6-8)
A Mulher:
“Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui segundo as nossas iniqüidades. Pois quanto o céu está elevado acima da terra, assim é grande a sua benignidade para com todos os que o temem. Quanto o oriente está longe do ocidente, tanto tem Ele afastado de nós as nossas transgressões (vs.10-12)”
A Menina:
“Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que O temem. Pois Ele conhece a nossa estrutura; lembra-se que somos pó. Quanto ao homem, os seus dias são como a erva; como a flor do campo, assim ele floresce. Pois, passando por ela o vento, logo se vai, e o seu lugar não a conhece mais. Mas é de eternidade a eternidade a benignidade do Senhor sobre aqueles que O temem, e a Sua justiça sobre os filhos dos filhos, sobre aqueles que guardam o Seu pacto, e sobre os que se lembram dos Seus preceitos para os cumprirem” (vs.13-18)

As Duas:
“O Senhor executa atos de justiça e juízo a favor de todos os oprimidos; compassivo e misericordioso é o Senhor; tardio em irar-se e grande em benignidade” (vs.6-8)
A Mulher:
“Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui segundo as nossas iniqüidades. Pois quanto o céu está elevado acima da terra, assim é grande a sua benignidade para com todos os que o temem. Quanto o oriente está longe do ocidente, tanto tem Ele afastado de nós as nossas transgressões (vs.10-12)”
A Menina:
“Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que O temem. Pois Ele conhece a nossa estrutura; lembra-se que somos pó. Quanto ao homem, os seus dias são como a erva; como a flor do campo, assim ele floresce. Pois, passando por ela o vento, logo se vai, e o seu lugar não a conhece mais. Mas é de eternidade a eternidade a benignidade do Senhor sobre aqueles que O temem, e a Sua justiça sobre os filhos dos filhos, sobre aqueles que guardam o Seu pacto, e sobre os que se lembram dos Seus preceitos para os cumprirem” (vs.13-18)

As Duas:
“O Senhor estabeleceu o Seu trono nos céus e o Seu reino domina sobre tudo. Bendizei ao Senhor vós anjos Seus, poderosos em força, que cumpris as Suas ordens obedecendo à voz da Sua Palavra! Bendizei ao Senhor, vós todos os Seus exércitos, vós ministros Seus que executais a Sua vontade! Bendizei ao Senhor, vós todas as Suas obras, em todos os lugares do Seu domínio! Bendizei ó minha alma ao Senhor!” (vs.19-22)


Extraído do Livro – Levítico Vol. 1 – A Imagem do Terreno e a Imagem do Celestial

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