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terça-feira, 24 de agosto de 2010

O desafio dos começos insignificantes


Um dos maiores enganos dos paisagistas amadores é deixar de prever quanto uma árvore crescerá a partir de uma mudinha. Assim é com aqueles que vêem o insignificante começo do reino de Deus e julgam que ele será sempre matéria de pouca conseqüência. Pois, como bem sabemos, não é o tamanho da semente que determina o que ela finalmente se tornará, mas o germe que vive dentro dela.

É esta verdade que Jesus usa para ilustrar o verdadeiro destino de um reino que terá um começo muito pouco prometedor, mas que no fim superará o mundo. Esta é, certamente, a mensagem que homens bitolados, de mente carnal, precisam ouvir, mas é também a palavra confortadora de que necessitam os discípulos do Senhor que acabaram de ser advertidos na parábola do semeador e na do joio, que o reino do céu, longe de ser universalmente recebido, terá que crescer no meio das forças do mal, as quais tentarão, poderosamente, destruí-lo. Este certamente não era o reino da expectativa popular, nem mesmo entre os discípulos mais íntimos de Jesus. O grão de mostarda era o símbolo proverbial de pequenez no mundo antigo judeu (Mateus 17:20).

Nesta parábola, Jesus observa que o reino de Deus é como essa semente, pequena e aparentemente inconseqüente, que com o tempo crescerá para ser uma árvore suficientemente grande para abrigar os pássaros. A parábola não está no tamanho do pé de mostarda. Ainda que tenha evidentemente atingido um notável tamanho para uma planta na antiga Palestina, ela obviamente não se comparará com aquelas grandes árvores que às vezes são usadas nas Escrituras como símbolos de reinos poderosos (Ezequiel 17:24; Daniel 4:20-22).

Em vez disso, a parábola focaliza a imensa diferença entre a miúda semente e a planta que cresce dela. O reino do céu, na verdade, não começou de modo impressionante. Isso é ilustrado pelo nascimento excessivamente humilde de seu rei que começou sua vida num estábulo palestino, filho de uma obscura moça camponesa sem nada a seu crédito salvo sua notável piedade e fé. E aquilo que começou tão despercebido não explodiu mais tarde em glória celestial. A criança cresceu para ser um mestre sem um centavo, sem credenciais educacionais, sociais ou políticas. Quão verdadeiro foi o que Isaías disse dele, "não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse" (Isaías 53:2).

A coisa que mais se esperaria e mais ausente desse reino foi a presença de um irresistível poder celestial. O poder veio, mas em formas silenciosas, gentis: a cura dos doentes e a ressurreição dos mortos. Não houve nada que forçasse imediatamente os ímpios a caírem de joelhos ou abatesse os ímpios poderes. A demonstração de poder divino que veio parecia ser amplamente destinada simplesmente a chamar atenção para o Mestre e sua mensagem; levar pessoas a ouvir, a aprender e a segui-lo alegremente (João 20:30-31; Hebreus 2:3-4). Jesus atingiu, durante algum tempo, alguma celebridade e seguidores populares entre os seus conterrâneos, mas no final eles se voltaram contra ele violentamente, assassinando-o sem um olhar para trás.

Poder-se-ia admirar que tipo de reino é este que começa assim. E isto é exatamente o que João Batista fez, mesmo antes que isso tudo parecesse terminar com a morte de Jesus. Ele enviou seus discípulos a Jesus, com a pergunta, "És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?" (Mateus 11:3).

Como pôde João Batista fazer tal pergunta? Ele próprio tinha ouvido a voz de Deus troando seu testemunho do céu "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Mateus 3:17). Ele tinha declarado que Jesus era "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (João 1:29).Talvez a explicação se encontre no fato que este espírito livre do deserto que tinha proclamado o iminente aparecimento do reino de Deus estava agora sufocando na prisão de Herodes.

Ele tinha, com sua pregação, enchido o deserto judeu com povo, suas expectativas num auge febril, e agora isto! Por que haveríamos de admirar-nos que João, como os discípulos de Jesus, tivesse sonhos de um imediato cataclismo celestial e uma vitória definitiva de Deus? É importante lembrar que aquele, em cujo espírito João Batista veio, tinha também uma vez sido levado a profunda depressão pela chocante reversão de eventos que seguiram sua grande vitória no Monte Carmelo (1 Reis 19). Jesus respondeu a João gentilmente, mas firmemente. "Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho. E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço" (Mateus 11:4-6).

O senhor não promete a João grandes coisas que viriam logo, nem miríades de anjos precipitando-se do céu para endireitar tudo. Havia apenas as maravilhas de curas e a pregação do evangelho aos pobres, os próprios sinais que Isaías tinha dito que anunciariam a chegada do reino do céu (Isaías 35:5-6; 61:1). E abençoados, ele disse, são aqueles que não encontrarão desapontamento nele ou no seu reino.

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