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quinta-feira, 10 de março de 2011

O enganoso evangelho da auto-ajuda

O Evangelho da Auto-Ajuda X Evangelho da Dependência de Deus

Lucas 18:9-14: “Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros: 10 Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. 11 O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; 12 jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. 13 O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! 14 Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.”

Vivemos dias de valorização da auto-estima. Nunca se deu tanto valor ao “eu”. Hoje se busca de todas as formas que os indivíduos sejam bem resolvidos consigo mesmo, aprendam a confiar nos próprios talentos e tenham uma auto-imagem positiva.

Os livros que mais vendem são os de auto-ajuda, as palestras mais requisitadas são as que têm enfoque neurolinguístico voltado também para a construção de uma boa auto-imagem. Os homens que não conseguem encontrar com Deus, consideram que basta um “encontro consigo mesmo” e as coisas estarão resolvidas.

Infelizmente muitos cristãos deixam se contaminar por esta onda. Já há livros “cristãos” de auto-ajuda, cursos e congressos que são promovidos e se parecem mais com as aulas de Lair Ribeiro do que com uma verdadeira pregação do Evangelho.

Crentes são ensinados a pronunciar jargões como “eu sou próspero”, “eu vou conseguir”, “eu vou vencer”, “ninguém vai me parar”, dentre outros. Retiram ata da Bíblia frases fora de contexto para promover a autovalorização, os casos mais comuns são: “sou mais que vencedor” e “tudo posso naquele que me fortalece”.

A partir da lógica de aumento da auto-estima a idéia de pecado é praticamente banida. “Não, o homem não pode se ver como indigno, como um pecador, isso destruiria a sua auto-estima!” Esta é a alegação daqueles que pregam um evangelho que bebe nas fontes da psicologia.

Entretanto, a parábola contada por Jesus mostra-nos uma lógica inversa para a vida cristã. Não que Cristo pregasse a necessidade da pessoa se autocondenar ou se autoflagelar por tudo, mas o Seu ensino leva a pessoa a colocar sua confiança plena de salvação em Deus e não nos seus supostos atos de justiça.

No evangelho da auto-ajuda, o homem começa a procurar em si os méritos que o qualifiquem como mais santo, mais espiritual, mais merecedor de bênçãos e até de elogios.

“Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam” diz Isaías 64:6. E é justamente isso que Jesus demonstra na ilustração que conta aos seus ouvintes.

Lucas começa narrando que Jesus “propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos...”. Parafraseando Lucas poderíamos dizer: “propôs esta parábola àqueles que têm a auto-estima elevada, àqueles que se acham bons”.

E o que chama a atenção na parábola é o fato de que o fariseu religioso tinha sim uma auto-imagem positiva. Tão positiva que fazia com que o mesmo se visse como merecedor do favor divino e os demais, não. Parecia que aquele homem tinha saído de um divã, cheio de si e “bom” demais para se comparar com pecadores. Suas palavras foram: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.”

Observe que ele se via como alguém diferenciado, para não dizer, melhor. A frase “não sou como os demais homens” é reveladora. Mas devemos reconhecer que era aparentemente alguém honesto e fiel aos princípios que aprendera e que, portanto, satisfazia as exigências de um bom convívio social. Mas não só isso. Ele também era um bom religioso: “jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.” Disse ele.

Certamente uma pessoa assim seria vista dentro da igreja como mais “espiritual”, mais honrado e ocuparia cargos eclesiásticos importantes. Porém, o problema não residia no fato daquele fariseu proceder como procedia. O erro era confiar no que ele era para se considerar bom diante de Deus, ele demonstrava acreditar que poderia contribui na própria salvação.

Já o publicano, se vivesse hoje, talvez fosse rapidamente encaminhado para um aconselhamento pastoral e, quiçá, um tratamento psicológico. Sua oração foi: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador.” E o que é mais grave aos olhos dos líderes de hoje, ele “não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu”, aquele era uma quadro grave de baixa auto-estima aos olhos humanos e aos olhos dos pastores da auto-ajuda!

No entanto, estranhamente, segundo narrou Jesus “este desceu justificado para sua casa, e não aquele”. Essa é uma lógica inversa ao tipo de cristão que tem sido forjado hoje em dia. Os crentes atuais exigem direitos, reivindicam bênçãos e não aceitam que alguém os ignorem, eles, afinal, são “cabeça e não cauda” e, por isso, querem os lugares de destaque, as posições privilegiadas e a honra humana.

São homens “bem resolvidos” consigo mesmo, mas pessimamente resolvidos com Deus. Isso porque, como demonstrou Jesus na parábola, são justificados aqueles que colocam a esperança no Senhor e não aqueles que a depositam nos próprios atos de justiça ou nas suas supostas qualidades.

O Evangelho está repleto de afirmações no sentido do quanto dependemos da graça de Deus e infelizmente isso tem sido ignorado nos dias atuais. Nada nos é dado por merecimento e tudo que recebemos de Deus é pela misericórdia do Senhor, inclusive a salvação. Ef 2:8-9 deixa claro “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.”

As boas atitudes não colaboram e nem acrescentam nada à salvação que é completa em Cristo. Elas são, sim, conseqüência da salvação que nos foi dada de graça, “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.” (Ef 2:10).

Todas as coisas que desfrutamos, o fazemos porque recebemos um presente de Deus. O autor de Eclesiastes reconhece isso até quando conseguimos algo como fruto do trabalho: “... é dom de Deus que possa o homem comer, beber e desfrutar o bem de todo o seu trabalho.” (Ec 3:13).

A pregação que infla o ego humano vai na contramão do Evangelho que nos ensina a nossa total dependência de Deus. Esse Evangelho pode não ser agradável aos ouvidos do homem, mas é o único verdadeiro.

Paulo exclamou: “Miserável homem que eu sou!”. Ele reconheceu a sua própria incapacidade de ser chamado bom. No verdadeiro Evangelho, devemos dar a glória sempre ao Único que é Digno de recebê-la e este é o próprio Deus.

Orgulho e a auto-estima não constam entre as virtudes do fruto do Espírito. Ver-se como bom e merecedor de recompensas é o primeiro passo para a rebelião contra Deus.

O mesmo apóstolo Paulo, escrevendo aos coríntios, disse: "Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós." (II Cor.4.7). Os servos de Deus devem se ver como vasos de barro contendo um tesouro precioso, que é Cristo. O crente de Deus não deve se auto-idolatrar.

Sendo de barro, o vaso é quebrável. O servo de Deus não é infalível. O vaso é quebrável, mas não pode estar quebrado. Embora seja de barro, esse vaso contém um grande tesouro. Mas deve-se compreender que o maior valor está no conteúdo e não no vaso.

Não precisamos de uma orgulhosa auto-imagem positiva, necessitamos sim termos a imagem do que realmente somos: carentes da graça e da misericórdia do nosso Deus.

Por Clériston Andrade/mensagemdacruz@ibest.com.br

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