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segunda-feira, 30 de março de 2015

Aula 40 - Escola Bíblica - Atos dos Apóstolos (4)

A Segunda viagem missionária
a)     Resumo e itinerário
Segunda viagem missionária: Paulo vai à Europa, (At 16:1-18:17): Galácia e A. Menor, (At 16:1-10). Timóteo e Paulo, (At. 16:1-5) e missão a Trôade, (At 16:6-10). Trabalho na Macedônia, (At 16:11-17:15). Em Filipos, (At 16:11-50). Em Tessalônica, (At 17:1-9). Em Beréia, (At 17:10-15). Na Acaia, (At 17:16-18:17). Esta última fase inclui Atenas e Corinto.

b)     A missão da segunda viagem
Segunda viagem (49-52; At 15,36-18,22). Paulo não demorou muito em Antioquia, mas visitou com Silas as comunidades cristãs da Síria, da Cilicia, de Derbe, Listra e Antioquia da Pisídia. Em Listra conheceu Timóteo, que se tornou um dos colaboradores mais fiéis do apóstolo (At.15,35-16,5). Daí surgiu com Silas para a Frígia, a terra dos gálatas, onde foi detido por uma doença e recebido “como um anjo de Deus”, como o próprio Cristo (Gl 4,13-15).
Depois de atravessar a Míssil chegou em Trôade (At 16,6-8), onde se encontrou com um médico, Lucas, que se juntou à sua companhia. No mesmo lugar teve a visão noturna da Macedônia, clamando por socorro. Seguiu imediatamente para a Macedônia e via Neápolis para Filipos, onde foi fundada uma comunidade muito florescente, composta quase exclusivamente de gentios (At 16,11-40; 1 Ts 2,2), que mostrou grande afeição para com Paulo. (Fp 1,3-8.10-16). Os magistrados da cidade mandaram prender Paulo e Silas; mas, durante a noite, foram soltos por serem cidadãos romanos.
Pela Via Egnatia os missionários continuaram sua viagem, por Anfípolis e Apolônia, até Tessalônica. Aí Paulo pregou durante três semanas na sinagoga e converteu numerosos “tementes a Deus” e alguns judeus, teve também muitas conversas nas casas particulares (1 Ts 2,11s), sobretudo à noite, porque de dia exercia a sua profissão (At. 2,7-10). Apesar da oposição de alguns (At 2,14), Paulo fundou uma comunidade florescente, composta, sobretudo de gentio-cristãos.
De Tessalônica Paulo e Silas partiram para Beréia, onde numerosos judeus e gentios da elite foram conquistados para o cristianismo, até que Paulo, pelas ameaças dos judeus, foi obrigado a abandonar a cidade. Deixou Silas e Timóteo em Beréia e viajou sozinho a Atenas (At 17,1-5); aí Timóteo se ajuntou a Paulo, mas foi mandado de volta a Macedônia (1 Ts 3,1-6).
Em Atenas Paulo pregou na sinagoga e no mercado. Alguns ouvintes, entre os quais havia filósofos epicuristas e estóicos, pensaram que estivesse anunciado novos deuses; foi convidado para apresentar a sua doutrina no Areópago; aí Paulo pregou o Deus único. Mas, quando começou a falar sobre o juízo e a ressurreição, interromperam-no. Alguns gentios apenas deixaram se convencer Dâmaris e Dionísio.
O Apóstolo aos gentios entristeceu-se profundamente por esse fracasso (1 Ts 3,3s) e desanimou (cf. 1Cor 2,3). Nesse estado chegou a Corinto, com o firme propósito de renunciar doravante à eloquência e sabedoria humanas, e de só conhecer e pregar o Cristo crucificado (1 Cor 2,2). Em Corinto esteve durante 18 meses hospedado com Áquila e Priscila. Nos dias de semana exercia a sua profissão; nos sábados pregava na sinagoga. Quando Silas e Timóteo, porém, lhe trouxeram ajuda financeira dos filipenses (2 Cor 11,9; Fp 4,16), dedicou-se ele inteiramente à pregação. Converteu alguns judeus (At. 18,8; 1 Cor 1,14) e muitos pagãos, principalmente das classes mais baixas, sem cultura (1 Cor 1,26).

Em Corinto, Paulo escreveu 1Ts e 2Ts. Invejosos do seu sucesso, os judeus o acusaram diante de Galião, provavelmente no princípio de seu consulado (meados de 52), como propagandista de uma “religião ilícita”. Galião, porém, rejeitou a acusação dos judeus. Em Corinto o apóstolo embarcou-se para a Síria, junto com Áquilas e Priscila. Deixou seus companheiros em Éfeso, aterrou em Cesaréia, visitou talvez Jerusalém, e voltou para Antioquia (At 18,18-22).

segunda-feira, 23 de março de 2015

terça-feira, 17 de março de 2015

Aula 39 - O livro de Atos dos apóstolos (3)

A chamada de Paulo
O chamado de Deus veio a Paulo de forma tão clara e específica que não lhe foi possível confundi-lo, enquanto jazia deitado no chão cego pela luz celestial. Ananias também lhe comunicou a mensagem que havia recebido de Deus: "O Deus de nossos pais de antemão te escolheu para conheceres a sua vontade, ver o Justo e ouvir uma voz da sua própria boca, porque terás de ser sua testemunha diante de todos os homens, das coisas que tens visto e ouvido" (Atos 22:14-15).

Mais tarde, quando Paulo voltava para Jerusalém, sobreveio-lhe um êxtase, e viu aquele que lhe falava e que lhe disse: "vai, porque eu te enviarei para longe aos gentios" (Atos 22:17,18,21). A Ananias, cujo temor bem podemos compreender, comissionado por Deus para dar as boas-vindas ao notório perseguidor da Igreja cristã, Deus também indicou a esfera de testemunho para a qual ele havia chamado Paulo: "Mas o Senhor lhe disse [a Ananias]: Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel; pois eu lhe mostrarei quanto importa sofrer pelo meu nome" (Atos 9:15-16).

Paulo revelou outra faceta de seu chamado ao se defender perante Agripa: "Ouvi uma voz que me falava… Levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda; livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrir os olhos e convertê-los das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus" (Atos 26:14-18).

Assim, desde os primeiros dias de sua vida cristã, Paulo não somente sabia que era um veículo escolhido por meio de quem Deus comunicaria sua revelação, mas tinha uma idéia geral do que Deus havia planejado para seu futuro: (a) Seu ministério o levaria para longe do lar; (b) Ele teria um ministério especial entre os gentios; (c) Esse ministério lhe traria grande sofrimento. Só aos poucos ele chegou a compreender que este chamado não era tanto um novo propósito de Deus para sua vida, quanto a culminação do processo preparatório iniciado antes de seu nascimento.
O Senhor havia dito aos seus discípulos que os postos de liderança no seu Reino dependiam da soberana nomeação de seu Pai. "Quanto, porém, ao assentar-se à minha direita ou à minha esquerda… é para aqueles a quem está preparado" (Marcos 10:40). Paulo reconhecia esta verdade, mas só aos poucos ele chegou a um claro entendimento do trabalho que Deus tinha para ele.
Só depois que os judeus rejeitaram de forma consistente sua mensagem é que Paulo se devotou quase que exclusivamente aos gentios. Sua experiência em Corinto chegou a uma fase decisiva. "Paulo se entregou totalmente à palavra, testemunhando aos judeus que o Cristo é Jesus. Opondo-se eles e blasfemando, sacudiu Paulo as vestes e disse-lhes. Sobre a vossa cabeça o vosso sangue! eu dele estou limpo, e desde agora vou para os gentios" (Atos 18:5-6).

Alguns anos após a sua conversão, este chamado inicial foi renovado e confirmado pela igreja de Antioquia onde ele havia trabalhado por um ano. "E, servindo ele [os dirigentes] ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado" (Atos 13:2). De modo que o chamado geral se tornou específico, e eles alegremente partiram, "enviados pelo Espírito Santo". O primeiro passo no cumprimento da grande comissão do Senhor e o começo do importante empreendimento missionário de amplitude mundial havia sido realizado com segurança.
As missões do apóstolo Paulo
Sabemos que o conceito teológico de Missões é tríplice: a igreja tem uma missão de adorar a Deus em espírito em verdade; tem uma incumbência de edificar a si própria; e tem a grande comissão de evangelizar o mundo. Como referencial de obreiro que Paulo foi, atuou nessas três obras. Entretanto, vamos delimitar a prática missiológica paulina somente às suas heroicas viagens missionárias.
O ambiente de trabalho missionário do apóstolo Paulo foi o Império Romano. Antes propriamente de entrarmos em suas viagens, é interessante ter em mente a cronologia da vida do Apóstolo aos gentios. Vejamos:
5 d.C.  Nascimento em Tarso, da Cilicia
20-26  Estudos em Jerusalém
26-32  Estudos em Tarso
32-37  Conversão na estrada de Damasco, (Atos 9)
37-39  Viagem pela Arábia. (Gl. 1)
35-43  Prega em Tarso e noutros lugares da Cilicia, (Atos 9 e Gálatas 1).
43-44  Prega com Barnabé em Antioquia, (Atos 11)
44-45  Viagem a Jerusalém, durante a fome, (Atos 11)
45-47  Primeira viagem missionária, (Atos 13-14)
47-49  Reside em Antioquia da Síria, (Atos 11 )
49       Faz-se presente ao concílio de Jerusalém. (Atos 15)
49-51  Segunda viagem missionária, (Atos 15-18 )
51-56  Terceira viagem missionária, (Atos 18-21)
56       Aprisionamento em Jerusalém, (Atos 21)
56-58   Paulo na Prisão em Cesaréia, (Atos 23 )
58-59   Viagem a Roma, (Atos 27 )
59-61   Confinamento em Roma, (Atos 26 )
61-64   (?) Viagens à Espanha, Creta, Macedônia, Grécia, não mencionadas em Atos, embora indicadas em outros documentos como no cânon muratoriano e nas epístolas de Clemente. Algumas indicações destas viagens existem nas epístolas pastorais.
64-67     Execução em Roma, durante as perseguições movidas por Nero.

1.  A PRIMEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA
Em geral, Os Atos relatam três viagens missionárias de Paulo. Essa narrativa às vezes é mui detalhada, às vezes resumida demais. O principal é o seguinte: todas as três viagens começam e terminam na comunidade gentio-cristã de Antioquia e não na comunidade judeu-cristã de Jerusalém (as epístolas confirmam isso); geralmente Paulo dirigia-se primeiro a seus patrícios mas bem depressa era obrigado a procurar os pagãos.

a)     Resumo e itinerário    
Primeira viagem missionária: Barnabé e Paulo vão aos gentios, Atos 13:1-14:29. Missão a Chipre, 13:4-12. Missão à Galácia, 13:13-14:28. Missão de Pafos a Perge, 13:13. Missão a Antioquia da Psidia, 13:14-52. Missão a Icônio e Listra, 14:1-18. Missão a Icônio, 14:1-7, Missão a Listra, 14:8-18. Retorno a Antioquia da Síria, 14:19-28.

b)     A Missão da Primeira Viagem 
Lucas conservou-nos uma preciosa notícia sobre a organização da comunidade de Antioquia e a liturgia (Atos 13: 1-3).
A primeira etapa da missão foi a ilha de Chipre, de onde Barnabé era originário. O que interessa a Lucas é o primeiro contato do apóstolo Paulo com um magistrado romano, Sérgio Paulo, senador, antigo pretor, muito conhecido por inscrições. Sua família vinha de Antioquia da Pisídia. Na narração de Lucas, o nome Paulo toma dali em diante o lugar de Saulo: não se pode deduzir daí que Saulo tenha adotado o nome do seu ilustre convertido. Ter um duplo nome era então corrente nos meios bilíngües, como o da família de Paulo. Junto ao governador, Paulo teve de enfrentar um mágico de origem judaica, Elimas (At. 13,8). O sucesso das ciências ocultas era grande na época; o que pode surpreender é que um judeu  as pratique. Segundo os Atos, Paulo terá outras ocasiões de se confrontar com mágicos. Na sua carta aos Gálatas, ele classifica as práticas de feitiçaria (pharmakeia) na categoria das obras da carne, próximas da idolatria (Gl. 5,20).
Nas suas cartas, Paulo não faz alusão à missão de Chipre, para onde ele não terá ocasião de voltar. Por que ele abandona a ilha sem a ter visitado toda? Paulo que toma a frente da expedição em direção à Anatólia através dos desfiladeiros do Tauro, covil de bandidos. Mais tarde Paulo fará alusão aos perigos corridos na estrada (2Co 11,26). Primo de Barnabé, o jovem João Marco teve medo da aventura e abandonou o grupo. Paulo não o perdoou, a princípio.

a) O discurso de Antioquia da Psídia
Quando Paulo chegava numa cidade qualquer, ele começava indo à sinagoga. Lá, ele podia entrar em contato com os judeus do lugar e os “tementes a Deus” , pagãos atraídos para o judaísmo (At 13,26). Como amostra da pregação de Paulo, Lucas nos conservou o discurso de Antioquia da Pisídia (At 13,14-41). Esta era uma colônia romana, fundada por Augusto para instalar aí os veteranos da legio V  Gallica.  O Sérgio Paulo que se instalou aí devia ser um dos oficiais superiores desta legião.
O discurso de Paulo não tem equivalentes nas Cartas, mas é fácil encontrar certo número de temas pertencendo à apologética cristã primitiva. Ele se coloca no contexto litúrgico tradicional: depois da leitura de uma passagem da Lei e de outra, tirada da coletânea dos profetas, os chefes da sinagoga convidam os visitantes a pronunciar algumas palavras de exortação. Paulo não se fazia de rogado!
O texto de Lucas tem a marca da retórica da época. Do ponto de vista das ideias, o discurso contém uma retrospectiva da história de Israel até Davi.
Ainda que dirigido em prioridade aos judeus, o discurso continha uma ponta universalista: a palavra da salvação vale para os filhos de Abraão como para todos os que temem a Deus (v.26). Sobretudo, ele esboçava uma crítica contra a Lei de Moisés, incapaz de trazer a salvação (v.38). O sucesso junto aos não judeus apenas aumentou a irritação dos filhos de Abraão. Para se justificar, Paulo declara: É a vós por primeiro que devia ser dirigida a palavra de Deus “(v.46)”. Paulo será fiel a este por primeiro, como se vê pela declaração de princípio de Rm 1,16:  “ O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, do judeu primeiro, e depois do grego”.
Para legitimar a sua passagem para as nações, Paulo cita então uma passagem dos cantos do Servo, que tem uma grande importância na apologética cristã primitiva: “Destinei-te a seres luz das nações, a fim de que a minha salvação esteja presente até a extremidade da terra” (Is 49.6). Este texto vale em primeiro lugar para Cristo, mas Paulo o aplicou a si mesmo, como mostra Gl 1.15. Assim, portanto, Paulo, servo de Cristo, descobre a sua missão ao reler a Escritura.

b) Pregação aos pagãos de Listra e retorno
Nas cidades que Paulo e Barnabé vão atravessar, o mesmo cenário se reproduz. Como por exemplo, em Icônio (At 14,1-7), a pátria de santa Tecla segundo os Atos de Paulo (acima, p.16s). Em 2Tm 3.13 também se fala dos sofrimentos suportados por Paulo em Antioquia, Icônio e Listra. Nesta última cidade, um incidente tragicômico manifesta bem a credulidade do povo e a dificuldade para os Apóstolos de fazerem-se compreender por uma população pouco helenizada. Uma cura provoca o entusiasmo e o povo logo quer oferecer um sacrifício, como se Barnabé e Paulo fossem Zeus e Hermes em visita.
No caminho de volta, os apóstolos confirmam os discípulos lembrando-os do sentido cristão da provação: “É necessário que passemos por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus” (At 14,22). Para dirigir as comunidades, Paulo e Barnabé designaram-lhe anciãos (presbyteroi). Este termo era tradicional nas comunidades judaicas para designar os responsáveis. Não surpreende que tenha sido retomado pelos judeu-cristãos: em Jerusalém, a primeira menção aparece já em At 11,30. Por outro lado, não o encontramos nas cartas de Paulo, exceto nas epístolas pastorais, redigidas provavelmente por um discípulo: os anciãos são instituídos por imposição das mãos (1Tm 5,22). Enquanto Paulo pudesse seguir por si mesmo a vida das congregações, a instituição dos ministérios podia permanecer na sombra. Isto não impede que Paulo tivesse a preocupação de apoiar aqueles que haviam aceitado tomar a direção das comunidades, como em Tessalônica ou em Corinto.
Tendo partido de Antioquia com o apoio dos fiéis, os missionários voltam para contar “tudo o que Deus realizara com eles, e, sobretudo como tinha aberto aos pagãos a porta da fé” (At 14,27). Atmosfera de alegria e de ação de graças, bem à maneira de Lucas! Mas os obstáculos foram todos afastados?  




segunda-feira, 9 de março de 2015

Aula 38 - O livro de Atos dos apóstolos (2)


A fundação da Igreja de Jerusalém

a-) Na Festa de Pentecostes, em 30 ou 33 D.C, deu-se o aniversário da Igreja. 50 dias depois da crucificação de Jesus. 10 dias após a sua ascensão. Pensa-se que esse pentecostes caiu no primeiro dia da semana. A Festa de Pentecostes também era chamada de Festa das primícias da colheita. Igualmente, comemorava a promulgação da lei no Sinai. Apropriava-se, pois, para ser o dia da promulgação do evangelho e da recepção das primícias da colheita mundial do mesmo evangelho.
Jesus, em João 16:17-24, tinha falado da inauguração da época do Espírito Santo. E agora, está sendo de fato inaugurada, numa poderosa manifestação milagrosa do Espírito Santo, com o som somo de um vento impetuoso, e com línguas como de fogo pousando sobre cada um deles, seja apóstolos, judeus, e gentios de todas as terras do mundo e os apóstolos da Galiléia falando com eles nas suas próprias línguas.
b-) O sermão de Pedro (2:14-16).  O espetáculo espantoso de apóstolos falando, sob a influência das línguas de fogo, falando diversas idiomas de nações ali representadas era o cumprimento da profecia registrada em Joel 2:28-32, segundo explicação do apóstolo Pedro nos versículos 15-21.

c-) O cumprimento das profecias. Nota-se as declarações repetidas que o que acontecia já tinha sido predito: A traição de Judas (1:16-20);  a crucificação (3:18), a ressurreição (2:25-28), a ascensão de Jesus (2:33-35), a vinda do Espírito Santo (2:17) e todos os profetas (3:18-24).

A Descida do Espírito Santo (1:12-2.13)
O rei Davi planejou a edificação do templo e reuniu os materiais necessários. Mas foi Salomão, seu sucessor, quem o erigiu (1 Cr 29: 1,2). Jesus igualmente planejou a Igreja durante seu ministério terreno (Mt 16:18; 18:17). Preparou os materiais humanos, porém deixou ao seu sucessor e representante, o Espírito Santo, o trabalho de erigi-la. Foi no dia de Pentecoste que esse templo espiritual foi construído e cheio da glória do Senhor (cf. Êx 40:34,35; 1 Rs 8:10,11; Ef 2:20). O dia de Pentecoste era a inauguração da Igreja, e o cenáculo, o local dessa comemoração.

a) O Dia de Pentecostes
"E, cumprindo-se o dia de Pentecostes…" O nome "Pentecoste" (derivado da palavra grega "cinqüenta") era dado a uma festa religiosa do Antigo Testamento. A festa era assim denominada por se realizar 50 dias após a Páscoa (ver Lv 23:15-21). Observe sua posição no calendário das festas. Em primeiro lugar festejava-se a Páscoa. Nela se comemorava a libertação de Israel no Egito. Celebravam a noite em que o anjo da morte alcançou os primogênitos egípcios, enquanto o povo de Deus comia o cordeiro em casas marcadas com sangue. Esta festa tipifica a morte de Cristo, o Cordeiro de Deus, cujo sangue nos protege do juízo divino. No sábado, após a noite de Páscoa, os sacerdotes colhiam o molho da cevada, previamente selecionado. Eram as primícias da colheita, que deviam ser oferecidas ao Senhor. Cumprido isto, o restante da colheita podia ser ceifado. A festa tipifica Cristo, "a primícias dos que dormem" (1 Co 15:20). O Senhor foi o primeiro ceifado dos campos da morte para subir ao Pai e nunca mais morrer. Sendo as primícias, é a garantia de que todos quantos nele crêem segui-lo-ão pela ressurreição, entrando na vida eterna.
Quarenta e nove dias eram contados após o oferecimento do molho movido diante do Senhor. E no quinquagésimo dia – o Pentecoste – eram movidos diante de Deus dos pães. Os primeiros feitos da ceifa de trigo. Não se podia preparar e comer nenhum pão antes de oferecer os dois primeiros a Deus. Isto mostrava que se aceitava sua soberania sobre O mundo. Depois, outros pães podiam ser assados e comidos. O significado típico é que os 120 discípulos no cenáculo eram as primícias da igreja cristã, oferecidas diante do Senhor por meio do Espírito santo, 50 dias após a ressurreição de Cristo. Era a primeira das inúmeras igrejas estabelecidas durante os últimos 19 séculos.

O Pentecoste foi a evidência da glorificação de Cristo. Também testemunhava que o sacrifício de Cristo fora aceito no Céu. Havia chegado a hora de proclamar sua obra consumada. O Pentecoste era a habilitação do Espírito no meio da Igreja. Após a organização de Israel, no Sinai, o Senhor veio morar no seu meio, sendo sua presença localizada no Tabernáculo. No dia de Pentecoste, o Espírito Santo veio habitar na Igreja, a fim de administrar, dali, os assuntos de Cristo.

b) O Falar em Línguas
Apareceu em seguida a realidade da qual o vento é símbolo: "E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem". O que produz esta manifestação? O impacto do Espírito de Deus sobre a alma humana. É tão direto e com tanto poder, que a pessoa fica extasiada, falando de modo sobrenatural. Isto pelo fato de a mente ficar totalmente controlada pelo Espírito. Para os discípulos, era evidência de estarem completamente controlados pelo poder do Espírito prometido por Cristo. Quando a pessoa fala uma língua que nunca aprendeu, pode ter a certeza de que algum poder sobrenatural assumiu o controle sobre ela. Alguns argumentaram que a manifestação do falar em línguas limitou-se à época dos apóstolos. Aconteceu para ajudá-los a estabelecer o Cristianismo, uma novidade naquela época. Não existe, no entanto, limites à continuidade dessa manifestação no Novo Testamento.

Mesmo no quarto século depois de Cristo, Agostinho, o notável teólogo do Cristianismo, escreveu: "Ainda fazemos como fizeram os apóstolos, quando impuseram as mãos sobre os samaritanos, invocando sobre eles o Espírito mediante a imposição das mãos. Espera-se por parte dos convertidos que falem em novas línguas". Ireneu (115-202 d.C.), notável líder da Igreja, era discípulo de Policarpo, que por sua vez foi discípulo do apóstolo João. Ireneu escreveu: "Temos em nossas igrejas muitos irmãos que possuem dons espirituais e que, por meio do Espírito, falam toda sorte de línguas".

A glossolalia (o falar em línguas) "ocorreu em reavivamentos cristãos durante todas as eras: por exemplo, entre os frades mendicantes do século XIII, entre os jansenistas e os primeiros quaquers, entre os convertidos de Wesley e Whitefield, entre os protestantes perseguidos de Cevennes, e entre os irvingistas". Podemos multiplicar as referências, demonstrando que o falar em línguas, por meios sobrenaturais, tem ocorrido em toda a história da Igreja. (Nota: O falar em línguas nem sempre é em língua conhecida. Ver 1 Co 14.2).

A conversão de Saulo de Tarso
A conversão de Paulo foi repentina. O Espírito Santo havia preparado o palco, no decorrer dos anos, para este grandioso confronto e capitulação. O raio luminoso cegante encontrou uma vasta quantidade de material inflamável no coração do jovem perseguidor. O milagre aconteceu em pleno meio-dia. Paulo viu a Jesus em toda a sua glória e majestade messiânicas. Não se tratava de mera visão, pois ele classifica o fato como a última aparição do Salvador a seus discípulos, e o coloca no mesmo nível de suas aparições aos outros apóstolos. Sua declaração é clara e inequívoca.
“E apareceu a Cefas, e, depois, aos doze. Depois foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria sobrevive até agora, porém alguns já dormem. Depois foi visto por Tiago, mais tarde por todos os apóstolos, e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo” (I Coríntios 15:5-8).

Não foi um êxtase, mas uma aparição real e objetiva do Cristo ressurreto e exaltado, vestido de sua humanidade glorificada. Paulo convenceu-se de imediato de que Cristo não era um impostor. Quão diferente foi a entrada em Damasco daquela que o inquisidor havia imaginado! "E, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia… mas, levanta-te, e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer… Então se levantou Saulo da terra e, abrindo os olhos, nada podia ver. E, guiando-o pela mão, levaram-no para Damasco" (Atos 9:4-8). Paulo entrou cativo em Damasco, acorrentado à roda da carruagem de seu Senhor vencedor. Fora tudo estava escuro, mas dentro tudo era luz.

A rendição de Paulo ao Senhorio de Cristo foi imediata e absoluta. Desde o momento em que ele reconheceu que Jesus não era um impostor, mas o Messias dos judeus, ele ficou sabendo que só poderia haver uma resposta. Toda a história se resume nas suas duas primeiras perguntas: "Quem és tu, Senhor?" "Que farei, Senhor?" (Atos 22:8,10). A verdadeira conversão sempre resulta em rendição à vontade de Deus, pois a fé salvadora implica obediência (Romanos 1:5). O mais amargo inimigo tornou-se o maior amigo. A mão que escrevia a acusação dos discípulos de Cristo, levando-os à presença dos magistrados e para a prisão, agora escrevia epístolas do amor redentor de Deus. O coração que bateu de júbilo quando Estêvão caiu sobre as pedras sangrentas, agora se regozijava em açoites e apedrejamentos por amor de Cristo. Do outrora inimigo, perseguidor, blasfemador proveio a maior parte do Novo Testamento.


segunda-feira, 2 de março de 2015

Aula 37 - Escola Bíblica - O livro de Atos dos Apóstolos


O livro de atos dos apóstolos ou Atos do Espírito Santo através dos apóstolos

1.      Título do livro: O título do livro de “Atos dos Apóstolos” tal como o conhecemos não fazia parte do livro original, mas sim foi lhe dado depois do ano 200 da era cristã. O Evangelho de Lucas e Os Atos,   são dois volumes de uma só obra. Isso fica claro comparando Lc 1.1-4 com At 1.1-4. 

2.      Tema do livro: O livro dos Atos contém a história do estabelecimento e desenvolvimento da igreja cristã, e da proclamação do evangelho ao mundo então conhecido na época (At 1.8).

3.    Palavras chaves de Atos: “Ascensão”, “descida” e  “expansão”.

4.      Escritor do livro:
a)      Pistas para descobrir o escritor: Considerando a dedicatória do livro a Teófilo (At 1:1; comparemos com Lc 1:3), a referência a um tratado anterior (1:1), o seu estilo, o fato de o autor ter sido companheiro de Paulo, o que fica muito claro por estarem certas partes do livro escritas na primeira pessoa do plural (“nós”), e ter acompanhado Paulo à Roma (At 27:1; comparemos com Cl 4:14; Fm 24; 2 Tm 4:11), chegamos a conclusão que o livro de Atos foi escrito por Lucas. A impressão que se dá é que ele teria usado o diário de viagem como fonte de material.

b)      Quem foi Lucas? Pouco se sabe dele. Seu nome é mencionado só três vezes no NT . Paulo chama-o de “médico amado”. O único escritor da Bíblia que não era judeu. A tradição e os estudiosos dizem que Lucas era homem de cultura e erudição científica, versado nos clássicos hebraicos e gregos. É possível que tivesse estudado medicina na Universidade de Atenas.

c)      Relação de Lucas com Paulo: Ficou em Filipos até à volta de Paulo, seis ou sete anos depois, At 16:40 (“dirigiram-se”), quando tornou a se juntar a ele, 20:6 (“navegamos”) e com ele ficou até o fim, possivelmente até a morte de Paulo em Roma.

5.    Para quem Atos foi escrito: Foi escrito particularmente a Teófilo, um nobre cristão, mas de um modo geral a toda a igreja.

6.    Propósitos do livro de Atos:
a)      Propósito Informativo/ Evangelístico: Lucas queria informar ao excelentíssimo Teófilo sobre como o evangelho se propagou desde de Jerusalém a Roma. Teófilo já havia recebido alguma informação a respeito da fé cristã, e foi para lhe fornecer uma explicação mais precisa de sua fidedignidade que Lucas, em primeiro lugar, escreveu a história inicial do Cristianismo, começando do nascimento de João Batista e de Jesus até o fim dos dois anos de prisão de prisão de Paulo em Roma (cerca de 61 a. D.). Atos trata principalmente dos atos de Pedro e de Paulo, mais deste último.

b- Propósito Apologético: O livro mostra principalmente como o evangelho se estendeu aos não judeus (os gentios). O A. T. é a história das relações de Deus, desde os tempos antigos, com a nação judaica, que tinha a função de abençoar as outras nações. É no livro de Atos que a família de Deus deixa de ser uma questão nacional e passa a ter um sentido universal (intenção divina em At 2:7-11). Assim, o escritor defende veementemente que o Cristianismo não é um ramo herético do judaísmo, mas antes, uma elevação e melhoria do judaísmo, com raízes profundas no mesmo, mas retendo apenas os elementos nobres e úteis, ficando rejeitados todos os seus males, especialmente a apostasia para a qual havia decaído, como também o seu escopo provincial.

c)      Propósito Político: Mostrar aos líderes romanos que o cristianismo não deveria ser temido e perseguido, como ameaça ou movimento traiçoeiro ao estado romano; pelo contrário, que era digno da proteção romana, com permissão de funcionar livremente, tal como o judaísmo havia obtido de seus conquistadores militares. Por este motivo é que o livro de Atos apresenta os oficiais romanos como ordinariamente favoráveis aos movimentos dos missionários cristãos. Embora Lucas houvesse escrito após Paulo haver sido martirizado, e a perseguição de Roma contra os cristãos já houvesse começado, ele não ignora e nem põe em perigo o seu propósito apologético encerrando o seu livro numa atitude negativa, a saber, narrando a execução do maior advogado do cristianismo às mãos das autoridades romanas. (Ver Atos 18:12-17, onde se expõe a idéia da proteção do cristianismo, pelas autoridades romanas, tal como o judaísmo já vinha sendo protegido pelas leis do império). Lucas, portanto, quis mostrar que os levantes e as perturbações de ordem pública que seguiam na cauda do movimento dos missionários cristãos resultavam das perseguições efetuadas pelos judeus, e não de qualquer espírito malicioso dos próprios cristãos. Lucas endereçou a sua dupla obra (Lucas-Atos) a um oficial romano, de nome Teófilo. Por conseguinte, dirigiu seu trabalho à aristocracia romana, esperando que se os argumentos ali contidos fossem recebidos e digeridos, o novel movimento cristão viesse a ser protegido, e não perseguido. Todavia, o seu grande alvo, do ponto de vista humano, fracassou, porque sobrevieram severas e prolongadas perseguições, desde muito tempo antes o evangelho de Lucas e do livro de Atos terem sido escritos e postos em circulação.

d)      Propósito Jurídico: Alguns estudiosos supõem que um objetivo do Médico amado seria o de usar o relato de Atos dos Apóstolos para ser lido como sumário de argumento para a defesa, no julgamento de seu amigo, o Apóstolo Paulo.

A Igreja em Jerusalém
1.    A comissão dos apóstolos
Os estudiosos chamam a missão dada por Jesus aos seus primeiros discípulos de “Grande Comissão”. Ele ordenou aos onze homens, com os quais mais dividira seu ministério terreno, que fossem ao mundo inteiro e fizessem discípulos em todas as nações, Ele lhes disse que ensinassem a esses novos discípulos tudo que haviam aprendido d’Ele (Mateus 28:18-20). Mais tarde, o apóstolo Paulo deu as mesmas instruções a Timóteo: "E o que de minha parte ouviste, através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros" (2 Timóteo 2:2). Mas, somente em nossas próprias forças não poderemos cumprir nossa comissão. Por isso, o Senhor nos deus uma capacitação além da natural: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”.

Qual o coração da Grande Comissão? Está a partir do versículo 19: “Portanto, ide e ensinai e fazei discípulos”. Podemos descobrir o coração da Grande Comissão, identificando os imperativos (tempos verbais que expressam ordem, determinação) nela: “Ide” e “fazei discípulos”. Os outros três verbos nos versículos 19 e 20 são gerúndios, ou seja, “indo”, “batizando” e “ensinando” - são as três funções indispensáveis de como fazer discípulos.  Assim, uma vez que esses versículos não são a Grande Sugestão, mas, sim, a Grande Comissão, o discipulado é imprescindível na vida da igreja e na vida de cada cristão.
Essa Comissão de Mateus 28.18-20  e paralelamente em Atos 1:8 é grande por, pelo menos, por cinco razões:

a)      É Grande em sua Autoridade. Das dezenas ou centenas de mandamentos de Jesus, este é o único em que Jesus se veste de toda a autoridade do Universo. Ele se coloca como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Na época bíblica, um súdito que ignorasse ou negligenciasse um mandato declarado com toda a autoridade real arriscava a própria vida. É com essa autoridade que fazemos a obra do Senhor (At 1:8).

b)      É Grande em seu Efeito Multiplicador. É assim que o reino de Deus pode explodir! Até então, havia só um discipulador multiplicando-se em outros - Jesus Cristo. Agora vem a Comissão para começar um movimento multiplicador, contra o qual nem as portas do inferno prevalecerão. Pouco depois, os discipuladores não eram só 11, mas 120. Um pouco mais depois não eram só 120, mas milhares. De pouco em pouco!

c) É Grande por sua Extensão Geográfica. Estende-se a todas as nações. Várias vezes o próprio Jesus limitou seu ministério e ordenou que os apóstolos também limitassem seus ministérios aos judeus. Aqui, ele abre o leque e abraça todo o mundo. Deus não admitiu que Sua igreja entrasse em um ostracismo, vivendo só para si, e encapsulada em um único ponto geográfico. Ele quer, na verdade, que Seu povo se expanda territorialmente e anuncie o evangelho a toda criatura,  tanto é que esse foi o objetivo  da  perseguição  de Atos 8: 1-4. A ordem que aparece em Atos 1:8 não é cronológica, ou seja, Cristo não falou para evangelizar primeiro Jerusalém,  segundo Judéia, terceiro Samaria e por último os confins da Terra. Essa interpretação é errada, perigosa, e fora da vontade do Senhor. O próprio texto de Atos 1:8 deixa claro que Jesus determinou que a obra da Sua igreja na Terra deveria ser desenvolvida simultaneamente nas três dimensões que Ele deseja que o Evangelho seja pregado. Isso fica claro nas expressões: “tanto em”; “como em”; e “até os”.

d) É Grande por sua Extensão a todos os aspectos da vida. Jesus nos chama a ensinar outros a guardarem tudo o que Ele ensinou. Esse mandato inclui toda a humanidade e, mais do que isso, implica não apenas o ensino, mas a prática desses mandamentos. No discipulado, o ensino sempre tem por fim a prática. Ou seja, o ensino que não leva à pratica não é discipulado.

e) É Grande por sua Extensão no Tempo. Estende-se até a consumação do século, até a volta de Cristo. Cada pastor e igreja que se envolve no discipulado conforme o exemplo de Jesus constrói os alicerces para um movimento que fluirá de sua igreja a todas as nações, até a consumação dos séculos.