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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Contra a ditatura da aparência

Uma mensagem para quem tem um conceito errado sobre a Igreja de Deus e para os que medem o sucesso de uma igreja pelo tamanho numérico que ela apresenta ter. Isso é tão falso como absolutamente equivocado.

“Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2.19).

Antes de dizer qualquer coisa, preciso compartilhar com vocês sobre os males dessa época presente:

1. Pragmatismo (o que funciona é aceito)
2. A ética do econômico (os tele-evangelistas)
3. A centralidade excessiva do Eu (eu necessito...)
4. A troca acelerada de heróis (perda de referenciais
5. A substantivação do ativismo.
6. O anti-ativismo – Atividade virtual de fuga (prisioneiros da garrafa)

A DITADURA DA APARÊNCIA

A ditadura da aparência tem feito dos homens assassinos de essências. Os valores cristãos já não são a quinta-essência buscada pelos homens; o imediatismo, o utilitário é o que tem mais valor hoje. Não conseguimos manter algo por muito tempo, não conseguimos fazer algo por muito tempo, não conseguimos ser consistentes.

Esta supervalorização da aparência faz do homem um ser fugaz, efêmero, transitório. Isto porque a mesma velocidade com que conquistamos nossas metas é a mesma com que nos desfazemos delas.

Temos mesmo que reaprender as dimensões de Deus no novo milênio que estamos vivendo. Para tanto nada melhor do que lermos as palavras de Jesus sobre desconstrução e nova construção: “Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2.19).

Jesus aqui estava falando da sua morte e ressurreição, mas estava também falando de um novo começo, um novo momento da história, uma coisa que iria revolucionar o culto, a liturgia, o templo.

Com essas palavras, Jesus estava mudando o conceito de templo grande para grande templo, ou seja: igreja grande para grande igreja.

CRESCIMENTO ESPIRITUAL OBRIGA-NOS, HOJE, A MUDANÇA DE PARADIGMAS


Eu estou muito preocupado, como pastor de igreja, com as tendências comportamentais do povo de Deus. Estamos trocando o “evangelho certo” pelo “evangelho que dá certo”, a essência pela existência, a ajuda do céu pela auto-ajuda, a face de Deus pelas mãos de Deus, a piedade pelo personalismo, a grandeza dos valores pelos grandes valores, o Evangelho pelo Eu-vangelho, a necessidade de “ser” para Deus pela ganância do ter.

SOMOS PRESAS DA APARÊNCIA E DA PUBLICIDADE! O TEMPLO QUE CRESCE PARA DENTRO

Uma leitura feita em Ezequiel do capítulo 40 ao 43 e 47, do versículo 1 em diante nos dará um motivo para continuar a obra de reconstrução dos valores cristãos.

O CONTEXTO DO LIVRO DE EZEQUIEL

O contexto histórico é o do exílio de Israel em Babilônia, na geografia do atual Iraque, quinhentos anos antes de Cristo (40:1). A experiência é espiritual, portanto, de natureza subje- tiva (40.2; 43.1-6).

Duas coisas precisamos entender desta revelação que Ezequiel está recebendo de Deus:

Primeiro, Ezequiel tem uma visão do Templo Construído Por Mãos Humanas, onde as vaidades dos construtores, dos sacerdotes, dos ricos e dos reis ganhavam sua simbolização; e emprestava a esses personagens da vaidade um sentimento de importância: valia a pena até mesmo ser enterrado nas imediações (43.7-9). O Templo dos Homens era lugar de ideologia, política e auto-afirmação!

Segundo, Deus revela a Ezequiel um NOVO MODELO: “Tu, pois, ó filho do homem, mostra à casa de Israel este templo, para que ela se envergonhe de suas iniquidades; e meça o modelo” (43.10). O templo feito pelas mãos dos homens tem o tamanho do que eles imaginam de grandeza, mas o que Deus está mostrando agora a Ezequiel é um modelo revolucionário (40.6 a 42.20). É um edifício impossível de caber nos padrões da matemática, da física e de qualquer arquitetura moderna!

Vejamos o que Deus está mostrando a Ezequiel:

1. As medidas são anti-físicas: o lugar começa mínimo (40.5,6) e, à medida em que se entra por essa Porta Estreita e nesse Lugar Pequeno, tudo começa a crescer. A sequência da leitura mostra que as dimensões vão ficando cada vez maiores quando se entra por essa pequena porta.

2. O crescimento é para dentro: do v.7 ao 41.5 esse é um fato inescusável. Quanto mais se entra, mas o lugar aumenta em suas dimensões e espaços.

3. O lugar não apenas cresce para dentro, mas também para cima (41.6,7). E o acesso de um nível para o outro não poderia ser alcançado por fora, mas somente por dentro. O lugar cresce se se entra nele e, uma vez nele, só se passa de um nível para o outro num caminho interior.

4. O lugar não se limita às simbolizações da terra. Suas decorações são manifestações de todas as criações de Deus: querubins e palmeiras. A primeira criação — a dos anjos — e a segunda criação — a da natureza que nos circunda (41.17-20). Elementos de ambas as criações estão presentes no lugar, de madeira à rostos animais e seres angelicais. Até os anjos que nele aparecem tem cara de homem e leãozinho!

5. As portas dos lugares mais sagrados contêm as mesmas simbolizações multicriacionais (41.25). Outra vez anjos e natureza estão juntos.

6. Ao ser totalmente medido, subitamente o lugar se projeta para amplidões incomparáveis, maiores do que todas as dimensões anteriormente mencionadas (42.15 – 20).

7. Somente após visitar esse lugar cuja entrada é estreita, pequena que violenta os conceitos de espaço — pois cresce para dentro e para cima —, que está marcado por todos os signos de todas as criações, e cuja saída remete para um mundo de dimensões bem maiores, é que se diz que aquela viagem permite a instalação na consciência do discernimento entre o “santo e o profano” (42.20c).

Portanto, não se está falando de um templo construível por mãos humanas. Ele não é desta ordem de coisas! A conclusão divina dada a Ezequiel é dupla:

1. Estou mostrando o meu Lugar Santo para que eles “se envergonhem e meçam o modelo” (43.10).

2. “Esta é a lei do Templo” (43.12). É o que Ele diz aos que se preocupam com exterioridades! A questão é: e daí? Bem, para quem não entendeu ainda, Deus está nos dando, através da visão de Ezequiel, alguns parâmetros de crescimento:

. A Porta é Estreita e o Lugar é Pequeno. De fora não se sabe o quão grande é dentro.
. Quanto mais se entra, maior fica.
. As subidas de andares só acontecem por dentro.
. A espiritualidade do lugar põe querubins (anjos) e palmeiras (natureza) em equivalência.
. Uma vez fazendo a viagem para dentro às dimensões aumentam para fora. E a consciência aprende a fazer a distinção entre o santo e o profano.

O desejo de Deus é que “meçamos o modelo”. Seu desejo é que comparemos o que chamamos de religião com aquilo que Ele chama de “lugar da minha habitação”.

Nos nossos templos os reis e os que se julgam importantes pensam que apenas “um muro” os separa de Deus (43.7c e 8a). Nos nossos templos a vaidade dá lugar a monumentos ao Ego (43.7c). Nossos templos são obras do homem! Já nesse lugar da habitação de Deus, as matemáticas humanas cessam e as medidas do homem são todas elas extrapoladas (Ef 3.14-19).

CONCLUSÃO:

Nesse lugar a gente só cresce se a viagem for para dentro e para cima. Não há escadas do lado de fora! E mais: a visão que nele se encontra acerca de Deus é a de uma espiritualidade que combina anjo e palmeira: o natural e sobrenatural! Esta é a lei do templo: entre pela porta estreita, viaje para dentro de si mesmo guiado pelo Espírito — o que estiver morto ganhará vida —, cresça interiormente, inclua toda a criação em sua espiritualidade, e não tenha medo do mundo exterior, pois, uma vez fazendo a viagem, ganha-se na consciência — não nas exterioridades — o discernimento entre o que é santo e o que é profano! “Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundices e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro em voz espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne” (Ez 36.25,26, v. 11.19,20).

Este era o sonho dos profetas! Este é o Templo que Jesus disse que em sendo destruído Ele o reconstruiria em três dias! E nós nos tornamos esse templo em Cristo! Afinal, eu estou Nele, por isto Ele vive em mim! Assim, fica-se sabendo que o único lugar onde o caminho de Deus se realiza é o coração. Isto porque “os céus dos céus” não podem conter a Deus. Ele, no entanto, habita com o quebrantado e com o contrito de coração!

Por Rev. Paulo Cesar Lima

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