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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Unidade, comunhão e misericórdia




O tema da unidade e comunhão de todos/as os/as discípulos/as de Jesus Cristo é deveras importante. Penso que esta temática é muito maior do que as segundas intenções que povoam alguns setores eclesiais e eclesiásticos da Igreja, pois ela nasce no coração de Deus visando com que o Corpo de Cristo espalhado por toda a terra seja o maior beneficiado.



A unidade e a comunhão tornam-nos fortes e demonstram às sociedades que é possível viver de uma maneira diferenciada. Esta vivência própria das comunidades de Jesus Cristo mostra ao mundo que existe uma divina alternativa para a indiferença, o individualismo, a ganância, o partidarismo, a traição, a reificação, o desamor, a barganha, o exclusivismo, a desunião, o egoísmo, a politicagem, o ódio, a violência, o tradicionalismo, o misticismo, o fanatismo, o ateísmo, o autoritarismo etc.



Este modo de existir da Igreja demonstra que ela não é a salvadora do mundo, mas que caminha orientada pelo Salvador concedendo refrigério, sabor e luminosidade a todos/as que se acham cansados/as e sobrecarregados/as com uma existência desumana e distante do Pai Celeste.

Antigamente esta unidade e comunhão daqueles/as que foram transformados/as por Jesus era chamado de ecumenismo. Entretanto, é notório que este termo está muito desgastado. Muitas foram as contribuições para que isso ocorresse. Dentre estas, é possível destacar o mau uso da terminação por vários setores midiáticos, por pessoas ávidas pela fusão de todas as religiões, também como por uma parte da liderança “cristã” (defensora e opositora) que agregou a ela os seus preconceitos, os seus “sacros” pontos de vista, a falta de reflexão e devoção, o cínico temor a Deus, o frágil compromisso com Jesus Cristo, a precária sensibilidade ao Espírito Santo e o limitado amor ao/à próximo/a.



O ecumenismo que dizia respeito exclusivo ao relacionamento entre os/as seguidores/as de Jesus tornou-se uma confusão terrível. Além disso, pesou na balança o fato de que vários/as “cristãos/ãs” defendiam muito mais os seus interesses financeiros, os seus anseios por poder e fama, as suas limitadas posturas teológicas e litúrgicas do que o Evangelho em si. Diante deste quadro, faz-se necessário reformular a terminação e, se necessário, evitá-la valendo-se de uma outra. Revisitar a Palavra de Deus pode nos ajudar neste trabalho, todavia não há como descartar a carga sócio-religiosa-cultural contemporânea que imprimiu nesta palavra sentidos, valores e sentimentos diversos.



Para amenizar ou transformar esta dura realidade é imprescindível buscar a unção do Espírito e disponibilizar ao Reino tudo aquilo que temos e somos. Uma vez que apresentamos esta gama de coisas a fim de abençoar pessoas, o Senhor será honrado em nossas ações e nos concederá o privilégio de visualizar os frutos desta obra.

Quando eu uso a expressão “unidade e comunhão dos/as cristãos/ãs” ela vem marcada por um ideário que para mim está claro. Peço-lhes licença para explicar. Muitos/as homens/mulheres tiveram um encontro com Jesus Cristo e por isso suas vidas foram transformadas, isto é, eles/as adquiriram novos valores, entenderam que o Senhor é quem os/as orienta a viver melhor como seres humanos, experimentam na atualidade parte da eternidade que lhes está preparada, esforçam-se por viverem o Evangelho e o Espírito Santo lhes ajuda no processo pedagógico da santificação.



Cristo, que é o Evangelho, tornou-se “os óculos” que lhes permitem observar, avaliar e relacionar-se com o mundo que os/as rodeia e consigo mesmos/as. Via de regra, a pessoa que acolheu a Jesus como Senhor e Salvador foi evangelizada por um/a cristão/ã que congrega em uma determinada igreja que possui características próprias. Seguindo esta lógica, conclui-se que as comunidades cristãs têm particularidades e semelhanças. A isso eu chamo heterogeneidade. Tal diversidade se percebe em uma única igreja local.



Uma igreja formada por pessoas diferentes, com posturas diferentes, com visões bíblico-teológicas diferentes, com vivências litúrgicas diferentes, com culturas diferentes e que se relacionam porque fazem parte do povo de Deus. Não obstante, estas diferenças não são obstáculos para aqueles/as que são discípulos/as de Jesus. Mesmo que surjam atritos interpessoais, os/as envolvidos/as buscam podar as arestas reconciliando-se, perdoando-se mutuamente e dando prosseguimento à caminhada cristã. Se o essencial no discipulado cristão é seguir a Cristo, fortalecer-se no Espírito e espalhar as sementes do Reino de Deus por toda a terra, aquilo que não é essencial não atrapalha a comunhão e unidade daqueles/as que foram resgatados/a por Jesus.

Quando priorizamos a comunhão e buscamos incessantemente a unidade dos/as discípulos/as de Jesus nós temos maiores condições de realizarmos tarefas que espelhem o Evangelho do Reino. É através dos relacionamentos que temos a possibilidade de demonstrarmos com ações, palavras e silêncios que fomos transformados/as por Cristo. Ao nos unirmos temos condições de aprender uns/umas com os/as outros/as.



As semelhanças conferem entusiasmo, alegria, disposição e vontade de influenciar positivamente os grupos humanos com os quais convivemos. As diferenças observadas na vida do/a irmão/ã nos ajudam em nossa auto-avaliação a detectarmos os nossos limites, valores, fragilidades e incompatibilidades. Com isso nós aprendemos a compartilhar, a dialogar, a respeitar e a conviver movidos/as pelo amor do Pai Celeste. Crescemos juntos/as. Evangelizamos juntos/as.

Eu aspiro pelo desenvolvimento e a promoção da comunhão e da unidade dos/as seguidores/as de Cristo. Mas, em alguns momentos, tenho que confessar, eu me entristeço por perceber que existem pecados e barreiras que impedem a concretização deste anelo. Esta realidade poderia começar a mudar desde que todas as lideranças das igrejas locais exercitassem e estimulassem a comunhão e a unidade entre os membros. Aquele/a que é líder precisaria viver do modo que se espera porque ele/a influencia pessoas. Se ele/a exerce uma função de liderança então ele/a poderia esforçar-se por viver o Evangelho e ter uma prática de devoção e reflexão ativa, instigante e sincera.



Apesar de minhas duras palavras, compreendo esta questão da seguinte forma: ou ele/a é líder por vocação e consciência do seu papel, ou é melhor ele/ fazer outra coisa na vida – porque liderança cristã é coisa séria. Assim sendo, o tema em pauta deveria ser amplamente divulgado pelas lideranças nos grupos de discipulado, nos encontros para culto, nas Escolas Dominicais, nos momentos de estudos bíblicos, nas famílias das comunidades cristãs, nas reuniões, nos retiros espirituais, nas festas, nas brincadeiras, nos passeios etc. Na minha visão... é tempo de adotar uma postura definida.

A diversidade ainda é uma característica positiva da Igreja. Todavia, em certos lugares, ela pode se curvar diante das famosas tentações sofridas por Jesus antes do início do seu Ministério, a saber, poder, fama e riqueza. Além disso, infelizmente há quem possa se utilizar ainda dos rótulos “tradicional”, “conservador/a”, “avivado/a”, “carismático/a”, “liberal”, “pentecostal”, “neopentecostal”, “progressista”, dentre outros que não facilitam as tarefas missionárias, antes serve para classificar diabolicamente as pessoas e as “facções cristãs” a qual pertencem. Veladamente, à semelhança do nosso Inimigo, indivíduos descristianizados se agridem travestidos de piedosos crentes exercitando de modo eficaz os atos de matar, roubar e destruir com classe.



Quando se observa a busca pela unidade e comunhão na história da Igreja nota-se que há elementos positivos e negativos. Especialmente estes últimos devem ser observados, pois além de deixarem feridas abertas nos corações de muitos/as irmãos/ãs, fomentam em outros/as tantos/as uma supervalorização das desgraças experimentadas ou ojeriza crônica. Por conseguinte, estão diante de nós vítimas de maldades, manipulações e confusões. Há pessoas traumatizadas que não experimentaram a cura que Deus oferece às “feridas interiores”, tampouco se submeteram às apropriadas terapias aplicadas por profissionais da área da saúde que intencionam promover uma vida psicologicamente adequada e a mais equilibrada possível. Logo, amor, carinho e sensibilidade são imprescindíveis no trato deste tema junto aos/às discípulos/as de Cristo. Por isso poderíamos dar pequenos passos, isto é, exercitando a unidade e comunhão inicialmente dentro da primeira igreja local que é a nossa casa, em nossa Comunidade de Fé, depois na instituição cristã à qual pertencemos e assim sucessivamente...

Construamos uma Igreja cheia do Espírito Santo que não anula sua diversidade. Construamos uma Igreja que se esforça por viver em unidade e comunhão por amor e gratidão a Jesus Cristo. Construamos uma Igreja que ama a Deus acima de tudo e ao/à próximo/a como a si mesma.

Se vocês puderem, convidem outros/as irmãos/ãs a se unirem em oração com o propósito de preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz.

Entendo que a Igreja, no poder do Espírito Santo, tem condições de se portar como um Farol nestes dias tão escuros. Cabe-nos, então, prosseguir refletindo, vivendo e anunciando o Evangelho.



Graça e paz




Por Edemir Antunes

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