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terça-feira, 26 de julho de 2011

Profetas em tempo de transição (Parte I)

Transição é uma palavra comum para profetas, pois eles estão sempre se movendo para a próxima fase. De fato, uma maneira de olhar a vida é ver que ela é feita de transição de uma fase para outra: do útero para o mundo, da fase de bebê à infância, da infância à adolescência, e assim por diante. Cada fase é para ser uma experiência boa e saudável, porém cada qual precisa dar lugar à seguinte.

Isto é exatamente como no reino de Deus. Existe uma fase da atividade de Deus que é para moldar a comunidade da fé, durante aquele período, entretanto chega o tempo quando há um fôlego fresco Divino e a comunidade precisa prosseguir. Discenir o tempo de transição é um dos papéis que o ministério profético deve exercer. Transição, seja de natureza individual ou coletiva, é sempre um tempo-chave e difícil. Pode ser especialmente desafiador para aqueles que carregam um peso de responsabilidade por liderança, pois antigas certezas são sacudidas e papéis são desafiados durante esse tempo.

A narrativa do reinado de Saul dando lugar ao gove o de Davi parece uma história muito apropriada para refletir durante um tempo de transição. Sempre que uma história bíblica dessa natureza é usada, freqüentemente existem aspectos que não se encaixam, ou quando forçamos para encaixar, fica óbvio que estamos produzindo mais da narrativa do que deveríamos. Contudo, esta narrativa permanece como um guia útil nesses tempos.

Saul — Um Bom Começo

No início do seu reinado, Saul não era arrogante nem sequer cria que ele seria aquele a cumprir a tarefa de reinar. Sua entrada no reino foi marcada pela escolha e unção de Deus. No fim do seu reinado, no entanto, estava evidentemente faltando a marca de Deus nele. Foi simplesmente por sua estatura física, pois se sobressaía em meio aos outros, que permaneceu. Esta é uma boa lição para todos nós. Podemos começar bem, com humildade e profunda gratidão ao Senhor, mas poderemos terminar não tendo evidência significante do Espírito de Deus em nós e até resistir o próximo mover de Deus.

Não estou procurando nestes parágrafos analisar Saul, embora seja algo que teria grande valor. Meu propósito é considerar como vivemos em tempo de transição. É importante, contudo, notar que Saul abandonou rapidamente qualquer prática de esperar no Senhor e buscar Sua face por direção. Isto foi provavelmente o que causou sua queda. Se não buscarmos ao Senhor quando tivermos que tomar decisões, recorreremos à sabedoria humana.

A liderança de Saul tonou-se cada vez mais uma liderança destituída da contínua unção do Espírito e poderíamos dizer que dependia de posição e estatura, de ser “melhor que os outros”. Não é surpresa que Davi, em contraste, seja chamado um homem segundo o coração de Deus (I Sam. 13:14). A cabeça com conhecimento e habilidade; o coração com rendição e submissão à direção de Deus — este é um resumo do contraste entre os dois.

Davi — Não Levante Sua Mão Contra o Ungido do Senhor

Saul tonou-se motivado por ciúme e perseguiu Davi procurando matá-lo. Em vez de suportar aquele que se tonaria rei e capacitá-lo a começar bem, ele queria fechar todas as possibilidades de Davi chegar ao trono. Durante esse tempo, Davi teve duas oportunidades para matar Saul (I Sam. 24:1-22; 26:5-25). Em ambas, ele se recusa a tomar seu destino em suas próprias mãos, terminando o tempo de Saul prematuramente. Em tempos de transição, teremos oportunidades de mover coisas adiante na direção “correta”, mas devemos resistir manipular qualquer coisa.

Podemos admirar Davi por não tirar a vida de Saul, porém teria sido conveniente se o Senhor tivesse removido Saul pela morte, pouco tempo depois que Davi agiu justamente quando poupou a vida de Saul. Isto teria confirmado que a recuperação de Saul acabara, que Davi era justo e que ele era evidentemente a escolha do Senhor; teria confirmado que uma era havia acabado e outra estava pronta para começar. Todavia, o Senhor não faz isso e Saul continuou como rei sobre Israel por muitos anos. Além do mais, ele continuou como rei apesar de Samuel ter proclamado que o reino tinha sido removido dele e apesar de Davi já ter recebido a unção do Espírito para ser rei. O Senhor não remove Saul de cena. Descobrimos que, em transição, existem muitas coisas que continuam (e são permitidas pelo Senhor para continuarem) embora seu “prazo de validade” tenha expirado há muito tempo.
Por que é desta maneira? Considero que a questão é simples. O foco do Senhor aponta para o que está se levantando, não sobre o que está se passando. A questão verdadeira não é acabar com Saul, mas aprontar Davi. Reto aremos a isso com mais detalhes ao fechar esse capítulo. Agora, quero enfocar outra narrativa do Antigo Testamento que desafia nosso senso de justiça, mas é uma passagem vital para profetas (e aspirantes a profetas) lerem.

Disponha um Pensamento Para o Jovem Profeta

Todo profeta deveria ler I Reis 13. A história é como segue. Um jovem profeta vem do sul a Betel e pronuncia um julgamento sobre ela. O julgamento é declarado porque este lugar (Betel significa “casa de Deus”) tinha se tornado uma casa pervertida. O rei fica ofendido e estende o braço para chamar o jovem profeta a fim de prendê-lo. Quando o rei faz isso, seu braço fica paralisado e, ao mesmo tempo, o altar se fende assim como o rapaz tinha profetizado. Como resultado, o rei pede que o jovem profeta ore por ele. Ocorre um milagre e o seu braço é restaurado. O rei, então, convida o jovem profeta para ir à sua casa com ele a fim de comer e receber um presente, entretanto a oferta é recusada, pois o jovem não pôde ser comprado e foi inflexível acerca do comprometimento com as instruções que Deus lhe dera. Ele diz,

(…) “Mesmo que me desse a metade dos seus bens,
eu não iria com você, nem comeria,
nem beberia nada nesse lugar.
Pois recebi estas ordens pela palavra do Senhor:
‘Não coma pão nem beba água
nem volte pelo mesmo caminho por onde foi’ ”.
(I Reis 13:8, 9)

Assim, a história é um desafio a todos os que aspiram mover-se profeticamente, e contém padrões que aqueles que são proféticos, dentro de algo novo que o Senhor esteja fazendo, têm que observar. A questão de obediência e de prática (que realmente é espiritual) relacionadas à recompensa material são áreas onde a pessoa precisa estar limpa.

A partir deste ponto, a história faz uma mudança imprevista, pois um profeta idoso começa a ser envolvido. Este profeta idoso ouve acerca do que ocorreu e deseja fazer contato. Ele descobre aonde o jovem profeta foi e, por fim, encontra-se com ele. O profeta idoso, como o rei fez antes, convida o jovem para comer com ele. Novamente ele responde:

(…) “Não posso ir com você nem posso comer pão
ou beber água nesse lugar.
A palavra do Senhor deu-me esta ordem:
‘Não coma pão nem beba água lá,
nem volte pelo mesmo caminho por onde você foi’ ”.
(I Reis 13:16,17)

O profeta idoso, então, passa a enganar o jovem afirmando que não somente ele também era um profeta, mas que tinha tido uma visitação angelical e foi instruído a levar o jovem de volta para comer (I Reis 13:18). O jovem é, compreensivelmente, intimidado e volta para comer. Agora, ocorre a virada final. No meio da refeição, o profeta idoso começa a profetizar para o jovem dizendo que ele tinha sido desobediente e, então, morreria prematuramente. Naquele dia mesmo, o jovem perde a sua vida.
Eu li isso um dia e fiquei um tanto enraivecido. Falei: “O profeta idoso deveria saber melhor. Isto é muito injusto”. Tão logo disse isso, ouvi claramente as seguintes palavras “Não, o jovem profeta deveria saber melhor”.

Meditei nisto por dias e cheguei à conclusão que o jovem sofreu porque ele tinha as chaves do futuro. O profeta idoso não tinha mais acesso a essas chaves. Ele era, agora, um “que foi”, seus dias estavam terminados e o peso de responsabilidade para o futuro, agora, estava sobre os ombros do jovem.
Seja com Davi ou com o jovem profeta, o princípio é o mesmo. Eles são parte da nova manifestação do que o Senhor está fazendo e como tal a questão verdadeira é aprontá-los para levar o mover de Deus adiante. A questão não é ter que tratar com a ordem antiga removendo-a, pois essa ordem é, por hora, quase irrelevante. A questão é certificar-se de que o que é novo esteja pronto para estabelecer-se e tomar responsabilidade. Uma vez que o novo esteja pronto para entrar na brecha, o antigo pode ir.

Quais são, então, as lições a serem aprendidas? Estou certo de que existem muitas, mas aqui estão algumas que, creio, são dignas de consideração:

• Transição é uma realidade. Precisamos estar prontos para ajustar o que temos feito à luz do novo tempo. O que for que tenha servido no seu tempo, tem que dar lugar para a próxima manifestação relevante. Deus faz tudo belo no Seu tempo (Ecl. 3:11);

• Deus declarará as coisas terminadas bem antes que sejam removidas. Nós, contudo, não devemos focalizar em tentar nos livrarmos do que tem sido. Nosso foco precisa estar no desenvolvimento do que está se levantando;

• As coisas antigas permanecem porque o peso de responsabilidade está em preparar o que está se levantando. Embora o antigo esteja terminado, ele, ainda atua nos propósitos de Deus (de modo estranho à nossa perspectiva) como uma proteção temporária para o que está se levantando;

• O antigo não tem mais as chaves para o futuro, assim, a responsabilidade sobre aqueles que abraçam algo novo é maior. Estes têm que saber melhor e submeterem-se à disciplina do Senhor. Eles não podem tomar seu nível de resposta a partir da geração anterior, pois o que é requerido de cada geração seguinte é maior do que o da anterior. (Veja como Isaque não pôde seguir os passos de Abraão quando experimenta fome — Gên. 26:1-11; 12:10-20).

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